Capítulo 6 — A PRIMEIRA NOITE

A porta do quarto de hotel fechou-se com um clique suave e definitivo. O som do trinco ecoou no silêncio caro do ambiente.

Isla parou no meio da suíte nupcial. Era grande demais. Tudo era grande demais

– o lustre de cristal, a cama king-size, as janelas que mostravam a cidade iluminada lá embaixo. O ar cheirava a produtos de limpeza caros e a nada mais. Nada humano.

Ezra atravessou o quarto até o aparador, onde uma garrafa de champanhe gelava num balde de prata. Ele a ignorou.

"Este quarto," ele disse, sem olhar para ela, enquanto tirava o relógio do pulso e o colocava cuidadosamente sobre a mesa de mármore, "custa mais por noite do que a padaria dele vai faturar em dez anos."

Não era provocação. Era constatação. Um fato matemático, como tudo em sua vida.

Isla não respondeu. Em vez disso, levou as mãos ao cabelo e começou a retirar, um por um, os grampos que prendiam o véu. Os gestos eram lentos, mecânicos. Quando o véu saiu, seus cabelos caíram sobre os ombros, despenteados. Ela o dobrou, colocou-o sobre uma poltrona. Um ato simples de normalidade em um dia anormal.

Ezra observou-a pelo reflexo no vidro da janela enquanto desabotoava o punho da camisa social branca.

"Não finja medo," disse ele, a voz plana. "Eu não precisei forçar nada hoje. Você disse 'sim' diante de dezenas de testemunhas."

Isla virou-se para ele, as mãos frias se entrelaçando na frente do vestido sujo.

"Mas também não me deixou escolher."

Ele finalmente se virou, enfrentando-a. Já sem o paletó, parecia menos o magnata e mais o homem – um homem perigosamente atraente e completamente fechado.

"Escolhas," ele repetiu a palavra como se a examinasse, "só existem para quem pode pagar por elas. Seu pai não podia. Seu padeiro não pode. Você não pode."

Ele caminhou até uma pasta de couro fino que estava sobre a cama. Abriu-a e retirou uma folha de papel.

"Este é o acordo pós-nupcial. Leia. Assine amanhã."

Isla não se moveu para pegá-lo. "O que diz?"

"O óbvio. Confidencialidade. Lealdade pública. Aparições conjuntas quando solicitado. Uma mesada generosa para suas despesas pessoais." Ele fez uma pausa, seus olhos cinzas fixos nela. "Você é livre para odiar-me, Isla. Não é livre para envergonhar-me."

Ela respirou fundo, uma pergunta surgindo antes que pudesse pará-la. "E se... e se eu me apaixonar por outro?"

O silêncio que se seguiu foi tão espesso que ela pôde ouvir o zumbido distante do ar condicionado. Ezra não se moveu. Seu rosto não alterou uma única linha. Mas algo em seus olhos escureceu.

"Então esconda melhor," ele finalmente disse, a voz tão baixa que era quase um sussurro, "do que fez com ele."

As palavras foram um golpe direto, calculado para atingir o ponto exato de sua culpa. Isla sentiu as lágrimas arderem novamente, mas não deixou que caíssem.

Ele colocou o acordo de volta na pasta e se dirigiu ao lado oposto da cama enorme. Tirou o relógio, como já fizera, e o colocou na mesa-de-cabeceira. Um ritual de controle, mesmo no descontrole da situação.

"Não espere cerimônias," ele disse, suas costas para ela. "O mundo lá fora pensa que esta noite nos pertenceu. Essa ilusão basta."

Ele deslizou sob os lençóis, do lado direito da cama, ainda vestindo a camisa e as calças sociais. Não havia intimidade no gesto. Era um ato logístico – o corpo precisa de descanso.

Isla ficou parada por um minuto inteiro, olhando para aquela figura imponente e distante na cama. Depois, com movimentos hesitantes, ela se virou e caminhou até o sofá largo perto da janela. Sentou-se. Não conseguia imaginar se deitar naquela cama, ao lado dele.

Descalçou os sapatos de salto alto e deixou-os cair no carpete espesso. Encolheu as pernas contra o peito, envolveu os braços ao redor delas e encostou a testa nos joelhos. Vestida, suja e exausta, ela ficou ali. Os olhos abertos, secos agora, encarando a escuridão atrás de suas pálpebras. Pensou em Kai, mas não no Kai dos sonhos. Pensou nele na estrada, com a moto destruída. Pensou no sangue em seu lábio. Pensou no vazio em seus olhos. Não era um pensamento romântico. Era um pensamento de ruína.

As luzes do quarto já estavam apagadas, apenas a luz fraca da cidade vazando pelas cortinas pesadas. Foi então, no escuro absoluto, que a voz de Ezra surgiu, clara e fria como uma lâmina.

"Se um dia eu tocar em você..." Ele fez uma pausa tão longa que Isla prendeu a respiração. "...será porque você já não terá para onde fugir. E porque você, finalmente, terá entendido a diferença entre um homem que brinca de amor e um homem que exige respeito."

As palavras pairaram no ar gelado do quarto. Não eram uma promessa de paixão. Eram uma sentença de rendição.

Isla não respondeu. Continuou imóvel no sofá, ouvindo a respiração regular e controlada dele vindo da cama. Ela não chorou. Não se lamentou.

Lá fora, começou a chover. Gotas batiam ritmicamente contra os vidros à prova de som da suíte.

De manhã, quando a primeira luz cinzenta do amanhecer raiou, Isla ainda estava acordada. Seus olhos ardiam de cansaço. Na cadeira em frente a ela, o vestido de noiva estava pendurado, um fantasma de renda e seda. Sujo. Rasgado na barra. Uma peça de evidência do dia em que ela tentou fugir e falhou.

Um pensamento, claro e frio, formou-se em sua mente, afastando a névoa do desespero:

Eu sobrevivi ao altar. Eu sobrevivi à primeira noite. Agora, preciso aprender a sobreviver a tudo que vem depois. E aprender, principalmente, a não morrer por dentro antes que esta guerra acabe.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App