ANABELA MENEZES
A porta bateu com aquele som definitivo de madeira contra o batente, selando a saída do Grande Ditador.
O silêncio que se seguiu no quarto do hospital foi delicioso. Respirei fundo, enchendo meus pulmões com o ar condicionado gelado, sentindo o cheiro de liberdade.
Comecei a rir. Primeiro foi um riso baixo, contido na garganta, mas logo borbulhou e se transformou em uma gargalhada aberta, jogando minha cabeça para trás contra o travesseiro.
Ah, a cara dele! A expressão de choque, de horror, de impotência! Ver Arthur Vasconcelos, o homem que se achava Deus, perceber que não tinha controle sobre a situação... foi melhor do que qualquer droga que me deram na clínica nos últimos anos.
A porta se abriu timidamente e minha mãe colocou a cabeça para dentro. O rosto dela estava manchado de rímel e lágrimas, uma expressão de preocupação patética.
— Anabela? Filha? O que aconteceu? Ele te machucou? Eu ouvi gritos...
Parei de rir e limpei uma lágrima do canto do olho.
— Não, mamã