Eduardo estava prestes a sair quando o celular vibrou. Um número desconhecido. — Alô? — É Lúcio. O pai da Helena. A voz do outro lado da linha estava firme, mas havia algo estranho. Uma hesitação entre as palavras, como se a mente do homem lutasse para se manter no presente. — Precisamos conversar. Hoje. Meia hora depois, Eduardo estacionou em frente à clínica. Uma parte dele dizia para ir embora, para não reabrir feridas. Mas ele entrou. Talvez por culpa, por medo do que ainda não sabia… ou apenas em busca de respostas. Lúcio o esperava em uma sala reservada. Estava mais magro, com olheiras fundas e expressão distante. Vestia roupas simples, mas bem cuidadas. O olhar... esse alternava entre foco e dispersão. — Obrigado por ter vindo — disse ele. Eduardo permaneceu em pé por alguns segundos antes de se sentar. — Por que me chamou? Lúcio piscou devagar, como se precisasse reorganizar os pensamentos. — Eu sei o que descobriu sobre mim. Sobre minha empresa. E sei também que ac
Helena acordou com uma sensação de peso no peito. A conversa com Eduardo na noite anterior ainda ecoava em sua mente — o pedido que fizera para ser liberada do contrato. Sabia que era o melhor a se fazer. Afinal, aquilo já não era mais um contrato. Era uma confusão de sentimentos que machucava. Conforme o dia passava, tudo parecia cada vez mais claro: afastar-se de Eduardo era a decisão mais sensata. Sentada no chão do quarto de hóspedes, começou a arrumar algumas caixas, tentando ocupar a mente e aliviar a ansiedade pela resposta de Eduardo. Aquele espaço sempre fora seu refúgio, seu lugar seguro quando tudo ainda era incerto. Estar ali despertava uma nostalgia agridoce. Enquanto organizava documentos antigos, encontrou um envelope que parecia estar ali a algum tempo. Curiosa, abriu-o sem hesitar e, ao ver a caligrafia no papel, seu coração disparou. Era a letra de Eduardo. A carta parecia antiga. Helena sentiu o ar faltar nos pulmões. "Helena, Não sei ao certo como tudo isso a
Eduardo estava sentado em seu escritório, os dedos tamborilando na mesa. A ideia de Helena partir para Londres, de deixar tudo para trás, pulsava em sua mente como uma ameaça iminente. A carta que ela encontrara no quarto de hóspedes ainda estava em sua cabeça, um lembrete cruel de que ele havia escrito tudo, mas nunca teve coragem de entregá-la. Seu orgulho e a raiva inicial haviam colocado tudo em risco. E agora, o peso de suas escolhas estava maior do que ele podia suportar. Ele precisava fazer algo. Algo que não fosse tarde demais. Depois de horas revisando documentos, tentando encontrar as palavras certas, Eduardo levantou-se e saiu do escritório. Cada passo parecia mais pesado enquanto caminhava pelo corredor até o quarto de Helena. Sabia que ela estava lá. Sabia que estava organizando suas coisas. E sabia que aquela era a última oportunidade de mostrar o que sentia de verdade. Eduardo parou à porta e respirou fundo antes de bater. — Entre — disse ela, sem muita emoção.
Os primeiros raios de sol invadiram o quarto de hóspedes, iluminando suavemente as caixas que ainda não estavam fechadas. Helena sentou-se à beira da cama, a cabeça apoiada nas mãos, sentindo o peso de sua decisão. Aceitar a proposta da GlobalTech parecia, ao mesmo tempo, um salto no escuro e a única escolha sensata. O envelope com a carta de Eduardo repousava ao seu lado, dobrado com cuidado, mas intocado. Ela havia passado a noite relendo aquelas palavras, ponderando cada frase escrita. A sinceridade crua que ele expusera era um reflexo do homem que ele podia ser — mas também um lembrete de quem ele vinha sendo até agora: frio, desconfiado, muitas vezes impenetrável. A conversa da noite anterior ainda ressoava em seus pensamentos. Ele finalmente dissera que a amava. Finalmente reconhecera que não queria perdê-la. Mas a questão não era mais só sobre o que Eduardo sentia. Era sobre o que ela precisava. E, pela primeira vez em muito tempo, Helena sabia o que isso significava: ela p
Os dias em Londres seguiam em seu ritmo habitual para Helena, mas ela se mantinha cada vez mais focada no trabalho. Era o refúgio perfeito para evitar pensar em tudo o que havia deixado para trás, especialmente Eduardo. A rotina na GlobalTech era intensa e desafiadora, mas, para Helena, era também uma oportunidade de mostrar a si mesma que estava no caminho certo. Cada dia que passava longe do Brasil parecia um passo em direção à independência que tanto buscava. Naquela tarde, enquanto revisava relatórios no escritório, Andrew Harper, o diretor regional, se aproximou com um semblante animado, um tablet nas mãos e uma ideia que, segundo ele, era impossível Helena recusar. — Helena, preciso conversar com você — disse ele, encostando-se na mesa dela. — Claro, Andrew. O que houve? — respondeu, fechando o arquivo e ajustando a postura. Ele gesticulou para que ela o acompanhasse até uma sala de reuniões. O entusiasmo dele era evidente e intrigante. Assim que fecharam a porta, Andrew co
O sol tímido de São Paulo iluminava a cidade naquela manhã, lançando reflexos suaves nas janelas dos prédios altos e nas ruas agitadas. Helena, sentada em uma poltrona confortável no escritório temporário da GlobalTech, olhava fixamente para os documentos à sua frente. Ela havia se preparado para este dia com dedicação, revisando cada detalhe técnico do projeto, mas nada em seus relatórios a preparava para o impacto de estar na mesma sala que Eduardo. O clima profissional da equipe ao redor era como um escudo contra suas emoções. Clara, sua colega animada e eficiente, estava ao seu lado organizando os materiais que seriam apresentados. — Nem acredito que o Sr. Vasconcelos estará liderando a reunião pessoalmente — disse Clara, entregando um relatório atualizado. Helena manteve o olhar nos papéis, evitando demonstrar qualquer reação. — Por isso, é importante que todos os pontos estejam absolutamente claros. Sem margem para erros. — Claro. Estamos prontos — disse Clara, sem per
Helena encarava o celular como se ele fosse um portal para algo que não sabia se queria atravessar. Aceitar ou não o convite de Clara? Depois de tanto tempo construindo paredes ao seu redor, o simples gesto de se abrir para uma nova amizade parecia assustador.Respirou fundo. Pressionou o botão de chamada.— Alô? — atendeu Clara com sua voz animada.— Oi, sou eu... Helena. Ainda está de pé aquele convite para um café?— Achei que você nunca fosse aceitar! — Clara respondeu com uma risada genuína. — Claro que sim! A gente se encontra no café em frente ao prédio? Daqui a quinze minutinhos?— Estarei lá — disse Helena, tentando manter a voz firme.Assim que desligou, sentiu um frio na barriga. Talvez estivesse finalmente permitindo a si mesma respirar um pouco.---A cafeteria era acolhedora e discreta. Clara já a esperava, acenando com entusiasmo ao vê-la entrar.— Que bom que veio! — disse ela, puxando uma cadeira para Helena. — Confesso que achei que você recusaria.— Eu também achei
Sentada na cama do hotel, Helena encarava o celular com as mãos trêmulas. O título da notícia estampado em todos os portais era inconfundível:"Secretária casada com milionário para dar golpe no chefe – Veja foto do casamento de Helena Ribeiro e Eduardo Vasconcelos!"A imagem anexada era cruel: ela e Eduardo no cartório, assinando o contrato de casamento. O sorriso congelado, a cumplicidade ensaiada—uma distorção da verdade que alimentava um enredo fabricado. A manchete transformava seu casamento em uma estratégia interesseira, um golpe, uma manobra. A raiva e a impotência a consumiam.Helena sentiu um aperto no peito ao ler cada palavra. A mentira estava ali, espalhada como fogo em palha seca, impossível de conter. A sensação de invasão a sufocava, a vergonha apertava sua garganta, mas o pior era saber que, mais cedo ou mais tarde, ela teria que lidar com isso. Não podia mais se esconder. A verdade — ou a falta dela — estava exposta para todos verem. E nada desaparecia da internet. N