Henrique não disse nada. Apenas fechou a porta e se aproximou, respeitando o silêncio que tomava conta da sala. Elize se aproximou da janela, olhando a rua lá embaixo como se procurasse, lá longe, as palavras que precisava dizer.
— Eu tinha catorze anos, Henrique, — começou ela, sem tirar os olhos do vidro. — quando perdi meus pais num acidente de carro. Minha irmã, Camila, tinha só dezoito na época. Precisou largar tudo pra me criar. Trabalhou em dois empregos. Dormia pouco. Comia menos ainda.
Ela deu uma risadinha seca, mas o som saiu quase como um soluço.
— Eu me sentia um peso. E, um dia, alguém me ofereceu uma forma de ajudar. Sem alarde. Sem riscos. Era só... observar. Ver quem entrava e saía do cais. Nada além disso.
Henrique não se moveu, mas o ar ficou mais pesado. Ele sabia onde aquela história ia terminar — ou achava que sabia.
— Eu virei os olhos e ouvidos da máfia no porto. Passava despercebida. Sabia me esconder, sabia ouvir, sabia desaparecer. Não era perigoso... até vo