As segundas-feiras na Baía tinham um ritmo próprio. Diferente do burburinho caótico dos finais de semana, a cidade parecia respirar fundo na manhã de segunda, como se se recuperasse de dias intensos.
O Café Velluto não era exceção. O movimento era suave, espaçado. Gente da cidade, alguns trabalhadores da marina, uma ou outra senhora com tempo livre para um café e bolo. Era a rotina que Elize conhecia bem — e gostava.
Com um avental amarrado na cintura e uma caneca de chá nas mãos, ela se encostou no balcão, observando pela janela os barcos balançando preguiçosamente na marina. O sol da manhã refletia nas águas como um mosaico dourado.
— E aí, focada nos sonhos? — perguntou Mada, surgindo ao lado com um pano de prato jogado no ombro.
Elize sorriu e se inclinou, puxando discretamente um livro de Direito que mantinha escondido sob o balcão. A capa já estava gasta de tanto ser manuseada.
— Sempre — respondeu. — Às vezes acho que meus olhos decoram mais esses artigos do que os pedidos