O relógio marcava 17h43 de domingo. O sol começava a se esconder atrás das mansões do bairro Alto do Luar, tingindo de dourado as vidraças da mansão Villamar.
Ágatha estava sozinha no jardim interno, cuidando das orquídeas, quando o celular tocou. Número desconhecido.
Ela quase não atendeu — não era de falar com estranhos. Mas algo naquele dia estava esquisito desde cedo, como se o vento carregasse um aviso.
— Alô?
A voz do outro lado era baixa, lenta, quase irônica.
— O mundo não gira, Ágatha… ele capota.
Ela levou um segundo para reagir.
— O que você quer dizer com isso? Quem está falando?
— Ah, que triste… não reconhece a voz do seu querido primo?
O sangue de Ágatha gelou. A tesoura que segurava caiu no canteiro.
— João?
— Ué… achou que eu tinha evaporado? Que o tempo e os cargos iam me enterrar de vez? Pois é. A vida é cheia de surpresas. Inclusive, adivinha de onde eu tô ligando?
— Como você conseguiu meu telefone? Aliás, como conseguiu me ligar?
— Ahh