Mundo ficciónIniciar sesión- Você está bem? - Era o homem mais lindo que eu já vi tão de perto. Apesar de trabalhar com vários clientes executivos, nenhum deles se comparava com esse que estava na minha frente. Ele era alto e magro, mas forte. Tinha os olhos castanhos claros e o cabelo escuro e liso que caia na testa. O tipo de homem que só via em capas de revista.
- Eeeu… Estou. Eu acho. - Segurei na mão dele e comecei a levantar enquanto catava as minhas coisas do chão. Percebi que estava muito próxima de uma carro e entendi o que aconteceu. - Me perdoe, você atravessou quando o sinal ainda estava amarelo. Ainda bem que tive tempo de parar. Por Deus, você se machucou? - Ele parecia preocupado e ao mesmo tempo indignado. - Você atravessou o sinal amarelo? Mas o sinal amarelo não é pra ter atenção? Então eu que estou errada? - Se continuar pensando assim você vai morrer mais cedo do que imagina. As buzinas dos carros atrás dele começaram a soar mais forte e terminei de recolher minhas coisas. - Eu estou bem. Só vou me atrasar para o trabalho, mas você já pode continuar com a sua pressa. - Falei bufando enquanto saía andando e me arrumando com as coisas na mão. O dia no escritório passou rápido. Comentei sobre o que havia acontecido e, apesar de ter ficado irritada na hora, dei boas risadas com o pessoal depois. Como eles disseram: “tinha que ser eu”. Acabei esquecendo também de qualquer sinal do Eduardo, o que não era comum. A conversa com Louise hoje de manhã tinha acendido em mim uma luz diferente sobre a forma como eu permitia que ele me tratasse. No final do dia, tinha conseguido adiantar vários processos e estava pronta para sair da minha sala, quando me deparo com uma figura na porta. - O que você tá fazendo aqui? - Era ele. Parado na minha frente, do mesmo jeito que o vi hoje de manhã. Mas como ele me encontrou? Nem sabia meu nome. - Você deixou cair isso aqui. - Ele estendeu o meu documento que deve ter caído da bolsa e eu não percebi quando juntei minhas coisas. - Ah, poxa. Não sabia que tinha caído. Obrigada. - Peguei o documento - Mas como me encontrou? - Isso não é tão difícil de descobrir. - Ele ergueu as mãos como se indicasse a facilidade de conseguir informações. - Mas também queria saber se você ficou bem. - Estou bem. Obrigado pela preocupação… e por trazer o meu documento. - Falei com mais doçura do que deveria. - Acho que te devo uma carona depois do que aconteceu hoje. Venha, vou deixar você em casa. - Não precisa se preocupar, eu estou bem, de verdade. - Eu não perguntei se você queria, vamos Laura. Não é que deixasse alguém mandar em mim assim, mas fiquei sem reação diante da forma como ele foi preciso nas palavras. Acho que queria fazer alguma coisa para recompensar o que aconteceu mais cedo. Caminhamos em silêncio pelo estacionamento, até soar o alarme de uma BMW na direção em que estávamos caminhando. Ele abriu a porta pra mim e eu entrei no que parecia uma nave espacial de conforto e tecnologia. Lembrei ligeiramente que foi aquele carro que bateu em mim mais cedo. - Você costuma sempre passar os sinais amarelos? - Perguntei de forma provocativa pra quebrar o silêncio enquanto ele dirigia pela cidade. - Não. Estava com um pouco de pressa. - Ele não desviou o olhar da pista e eu comecei a analisar a beleza daquele homem. Ele tinha traços masculinos marcantes que, juntos, formavam a assimetria perfeita. Seus lábios, seu nariz, absolutamente tudo nele era bonito. “Como eu vim parar no carro de um homem assim?” - Thomas. Meu nome é Thomas. - Só então me dei conta de que sequer sabia o nome dele. - Ah, perdão. Eu acabei esquecendo de perguntar. - Até o nome era lindo. - Laura… bom, você ja sabe. - Há quanto tempo é advogada? - Acho que a pergunta veio mais para preencher o vazio do que real curiosidade. - Você não conseguiu descobrir isso na sua investigação? - Respondi com desdém. - Sim, mas eu queria ouvir de você. - Ele me olhou como se estivesse falando algo completamente normal. - Você sabe que processar você por isso?! Como assim invadir minha privacidade desse jeito? - Isso é típico de advogado mesmo. Sair por aí falando que vai processar os outros por qualquer coisa. - Nessa hora ele abriu um sorriso de orelha a orelha que me desmontou. Apesar do tom arrogante e da segurança ao falar, o sorriso dele poderia me fazer ficar por horas olhando pra ele. - E isso é típico de vocês riquinhos metidos, que acham que estão acima até da lei. Revirei os olhos e começamos a rir os dois. Quando ele estacionou na frente da minha casa, agradeci e por um momento pensei que aquele passeio - se é que podemos chamar assim - até poderia ter durado mais. - Eu ia perguntar como sabia onde eu moro, mas é melhor deixar pra lá. Boa noite. - Agradeci mais uma vez e subi para o apartamento. - Senhorita Laura, o senhor Eduardo está aqui e pede autorização para subir. - As palavras do porteiro no interfone fizeram o meu estômago revirar. “Como assim, o que Eduardo acha que está fazendo vindo aqui?” - O que você quer aqui, Eduardo? - Olhei fixamente nos olhos dele, me mantendo o mais dura possível. As inúmeras tentativas falhas de falar comigo ao longo do dia não foram suficientes para ele entender que não quero mais nada. - Lau, tentei falar com você o dia todo e não me atendeu. Nem me deixou subir?! O que tá acontecendo com você? - Ele conseguia ter um nível de cinismo crônico, só podia ser. Até me chamando pelo apelido carinhoso que me deu há muito tempo. - Você é doido ou só está tentando parecer? Nós terminamos definitivamente há mais de dois meses. O que você quer comigo? - Poxa, eu estou com saudades. Queria conversar, saber como você tá e quem sabe… - Ele começou a se aproximar mais do que deveria e fez um gesto como se fosse tocar o meu rosto. - Não chegue perto de mim, Eduardo. Não existe conversa, não existe amizade e nenhuma chance de reconciliação. Eu cansei de você e agora que estava curada, depois de ter sido abandonada de novo, você volta? - Meu rosto estava vermelho de raiva, mas eu me recusava a deixar que sequer uma lágrima brotasse no meu olho. - Calma, Lau. Não precisa ficar assim… Nossa, o que aconteceu com você? - Ele conseguia me irritar mais com esse papo do que quando me abandou. - Sabe o que aconteceu comigo? Eu acordei e percebi que mereço muito mais! Vá embora, Eduardo! - Apontei para a rua, fazendo sinal para ele sair.






