Dois anos depois.
Eu não queria estar ali. Minha vida era corrida e minha carreira dependia da minha dedicação, então jantares como aquele, estavam fora da minha rotina. Sophie tinha implorado para que eu fosse ao jantar, dizendo que seria divertido, que queria a minha presença, e que eu precisava me distrair um pouco. Então, por amizade, aceitei. Mas assim que entrei no restaurante e vi quem acompanhava Liam, soube que a noite seria um desastre. Demian Kim. Eu já conhecia o nome, impossível não conhecer. Matérias de negócios, capas de revistas, entrevistas em que ele posava como gênio precoce dos investimentos. Jovem, bilionário, mestiço, filho de coreano com americana, dono de uma confiança quase arrogante, mas o pior era aquela sensação de que já o conhecia de outro lugar, algo em meu peito gritava que aquele encontro seria algo intenso. Só não imaginei que fosse ser ainda pior do que estava pensando. Os olhos dele me avaliaram em segundos, como se tivesse o direito de me medir. — Tessa, esse é o Demian, melhor amigo de Liam — Sophie apresentou, radiante. — Demian, essa é minha melhor amiga. Estendi a mão para cumprimenta-lo. — A cientista — ele disse, arqueando uma sobrancelha, com aquele sorriso presunçoso que dava vontade de socar. — Já ouvi falar. Sua mão estava quente e quando o toquei senti uma eletricidade se espalhar pelo meu corpo, algo como reconhecimento passou pela minha mente, mas afastei logo em seguida. — Espero que não tenha lido somente jornais de negócios — respondi, firme. — Imagino que sua leitura se limite a cifras e índices. O brilho nos olhos dele denunciou o prazer em me provocar. Seus olhos estavam cravados nos meus, sustentei seu olhar. Liam pigarreou, chamando nossa atenção. — Oi, Tess! Que bom que veio. Estava falando de você agora mesmo para o Dem. Liam tinha esse dom, mesmo em ambientes hostis, ele conseguia fazer amizade com todos e deixar o clima mais amistoso, porém, o oponente que estava em minha frente não era um qualquer, era CEO poderoso que achava que todos tinham que se curvar a sua vontade, e eu não era de me curvar a ninguém. Abracei Liam. — Espero que so coisas boas. — sorri indiferente. — Só tenho coisas boas para falar de você, Tess. Liam sorriu e pude ver Sophie retribuir com tanto amor que minha vontade era de vomitar. Sei que parece ridículo pensar assim, mas de fato eu nunca tinha acreditado no amor verdadeiro, até ver Sophie e Liam. Os dois eram feitos um para o outro, e eu estava tão feliz por eles, mas sabia que aquilo era algo raro e com toda a certeza, nunca iria acontecer comigo. Liam nos conduziu até nossa mesa. Durante o jantar, cada palavra se tornou um duelo. — É fascinante como o cérebro encontra novas conexões a cada descoberta. Uma única pesquisa pode mudar vidas. — comecei a falar sobre a minha pesquisa. — Mudanças que custam anos… e milhões desperdiçados. Enquanto isso, resultados concretos continuam esperando. — Demian rebateu indiferente. — Resultados concretos? Você fala de lucros, não de pessoas. Um paciente não é um gráfico em uma planilha. — retruquei. — E sem gráficos, sem investimento, não existem pesquisas. Você fala como se a ética pagasse salários. — respondeu com uma arrogância digna de um CEO mimado. — Ética é o que separa a ciência do caos. Ou você preferiria um mundo em que qualquer um vendesse promessas milagrosas só para enriquecer? — respondi arqueando uma sobrancelha. — Promessas milagrosas vendem. É o que mantém indústrias de pé. — Demian me respondeu com um sorriso frio e um olhar intenso — Então esse é o legado que você quer deixar? Um império construído em cima da ignorância? — não consegui disfarçar a ironia em minha resposta. Demian inclinou-se em minha direção, ficando bem próximo, com a voz baixa e provocadora. — Um império que você parece desprezar, mas do qual adora usufruir quando convém. — Prefiro lutar contra o seu império a me curvar a ele. — nesse momento minha raiva era visível. — Cuidado, doutora. Esse tipo de guerra pode ser viciante. — seu sorriso de lado era quase divertido, ele estava se divertindo as minhas custas. — Então prepare-se, porque eu não perco uma guerra. — levantei o queixo e sorri. Sophie e Liam tentavam disfarçar, mas era impossível ignorar: nós nos odiávamos. Ou pelo menos… tentávamos odiar. Porque havia algo nos olhares dele. Algo que me irritava tanto quanto me atraía. Quando finalmente consegui escapar, me despedi de Sophie e Liam e caminhei até a saída, respirando aliviada. Mas antes que pudesse atravessar a porta, uma mão firme segurou meu braço. O perfume dele, o calor da aproximação, o sussurro perto demais do meu ouvido, e aquela eletricidade quase me fez suspirar. — Doutora Grant — disse, a voz baixa, quase um desafio íntimo. — Você tem um talento raro… consegue ser insuportável e fascinante ao mesmo tempo. Meu coração disparou. E eu o odiei por isso. Puxei o braço e saí apressada, furiosa — com ele e comigo mesma.