A madrugada havia despencado sobre Istambul com um manto úmido de silêncio e tensão. A chuva que caía fina escorria pelas janelas do quarto, dançando contra o vidro como se buscasse ecoar o que meu coração sentia — confusão, medo e um desejo que se recusava a morrer.
Baran estava em silêncio, sentado à beira da cama com os cotovelos apoiados nos joelhos, as mãos entrelaçadas e o olhar perdido em algum ponto no chão de madeira. O quarto carregava o cheiro dele, da sua colônia amadeirada, do cigarro turco que ele insistia em fumar em momentos de ansiedade e do sexo que ainda impregnava os lençóis.
Mas agora, tudo parecia distante.
Eu estava de pé, ainda vestindo apenas a camisa dele, o corpo dolorido dos toques intensos da noite anterior, mas a alma… a alma estava estilhaçada. As palavras de Melek ainda ecoavam em minha mente como uma maldição.
— Por que você nunca me contou sobre ela? — perguntei em voz baixa, tentando controlar o tremor.
Baran ergueu o rosto lentamente, os olhos verde