Na casa do campo, as horas pareciam deslizar em câmera lenta. Era um esconderijo, mas também um cenário que aumentava a tensão entre nós. Isolados do mundo, sem ninguém por perto, havia uma mistura estranha de calma e instabilidade. Mehmet ficava mais silencioso a cada dia, mais contido. Observava a floresta pela janela como se esperasse o inimigo surgir da névoa.
Enquanto ele mergulhava em pensamentos, eu tentava manter algum senso de normalidade. Preparava café, arrumava a cama, lia qualquer coisa que encontrasse, embora minha mente nunca estivesse ali. Estava nele. E no que viria.
Naquela manhã, o céu estava encoberto. Chovia fino, e as árvores balançavam lentamente. Encontrei Mehmet sentado em frente à lareira, sem camisa, com uma garrafa de uísque pela metade na mesa ao lado.
— Você não dormiu — comentei, me aproximando.
Ele apenas balançou a cabeça. Os olhos estavam vermelhos, mas não de sono. De cansaço emocional.
— Sonhei com Barış — ele disse, com a voz baixa. — Sonhei que el