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capítulo 3 - Onde o Desejo começa a tomar forma

O bar ficava a menos de cinco minutos do prédio, mas para Helena o trajeto pareceu longo demais. Cada passo ao lado de Laura aumentava a consciência do próprio corpo, da presença da outra, do que aquela simples saída representava. O céu ainda carregava vestígios da chuva, e o ar fresco da noite contrastava com o calor silencioso que se acumulava dentro dela.

Nenhuma das duas falou muito no caminho. Não por falta de assunto, mas porque havia algo mais confortável no silêncio compartilhado. Um silêncio que não precisava ser preenchido. Quando chegaram, o bar estava moderadamente cheio — luz baixa, música suave, mesas de madeira e um balcão antigo que parecia ter histórias demais guardadas entre copos e garrafas.

— Gosto daqui — Laura comentou, tirando o casaco e pendurando-o na cadeira. — Não é barulhento demais.

— Combina com você — Helena respondeu, antes mesmo de pensar se deveria dizer aquilo.

Laura a encarou por um segundo, o canto da boca se curvando em um sorriso lento.

— Vou considerar isso um elogio.

Sentaram-se frente a frente. Helena apoiou os cotovelos na mesa, tentando parecer relaxada, mas sentia-se exposta. Fora do ambiente controlado do trabalho, tudo parecia mais intenso. Os gestos de Laura, o jeito como ela inclinava levemente a cabeça ao ouvir, a atenção dedicada — tudo era mais evidente.

Pediram bebidas simples. Nada que pudesse servir de desculpa depois.

— Você parece diferente aqui — Laura observou, depois de alguns minutos. — Menos… contida.

Helena soltou uma risada breve.

— Talvez porque aqui eu não precise fingir que estou ocupada.

— E no trabalho você finge?

— Constantemente.

Laura riu, acompanhando o comentário, mas manteve o olhar atento.

— E do que você foge quando se ocupa demais?

A pergunta foi feita com cuidado, mas atingiu um ponto sensível. Helena desviou o olhar por um instante, observando o movimento ao redor. Pessoas conversando, risos soltos, vidas acontecendo sem grandes dilemas aparentes. Sentiu uma pontada de inveja.

— De repetir erros — respondeu, por fim.

Laura não pressionou. Apenas assentiu, como quem entende mais do que diz.

— Todos nós fazemos isso de algum jeito.

O tempo passou de forma estranha. Rápido demais e lento ao mesmo tempo. As conversas fluíam com naturalidade, alternando entre banalidades e confissões sutis. Helena falou sobre o motivo de ter mudado de área, sobre a necessidade de recomeçar. Laura contou sobre ter herdado a sala comercial de uma tia, sobre a sensação de permanecer em um lugar enquanto tudo ao redor mudava.

— E você nunca pensou em ir embora? — Helena perguntou.

— Já — Laura respondeu, girando o copo entre os dedos. — Mas percebi que ficar também pode ser uma escolha corajosa.

A frase ficou ecoando entre elas. Helena sentiu que havia algo ali — não apenas uma resposta casual, mas uma forma de ver a vida que contrastava com a sua própria.

Quando a música mudou para algo mais lento, quase imperceptível, Laura inclinou-se um pouco mais para frente.

— Posso ser direta? — perguntou.

Helena sentiu o estômago se contrair.

— Pode.

— Desde o primeiro dia… existe algo entre nós. Você sente isso também ou é só impressão minha?

O mundo pareceu silenciar. Helena respirou fundo. Aquela era a pergunta que ela vinha evitando desde o momento em que aceitara o convite.

— Eu sinto — respondeu, com honestidade. — Mas sentir não significa estar pronta.

Laura manteve o olhar firme, sem surpresa.

— Eu não estou pedindo pressa.

— Eu sei — Helena disse, mais baixo. — E é isso que torna tudo mais difícil.

Houve um instante de proximidade silenciosa, carregada de expectativa. Laura estendeu a mão sobre a mesa, parando a poucos centímetros da de Helena. Não tocou. Esperou.

Helena observou aquele gesto com atenção. A permissão implícita. O respeito. Lentamente, ela mesma completou a distância, tocando os dedos de Laura. O contato foi suave, quase tímido, mas fez algo dentro dela se romper. Não era apenas desejo físico — era reconhecimento.

— Você não parece alguém que se entrega fácil — Laura murmurou.

— Não sou.

— Então por que está aqui comigo?

Helena fechou os olhos por um breve segundo antes de responder.

— Porque estou cansada de fugir.

Laura sorriu, um sorriso pequeno, mas cheio de significado. Aproximou-se mais, diminuindo ainda mais o espaço entre elas. O bar continuava ali, cheio de gente, mas para Helena tudo se resumia àquele instante.

O beijo não aconteceu. E, de alguma forma, isso tornou tudo ainda mais intenso.

Quando se afastaram, Laura foi a primeira a quebrar o silêncio.

— Posso te levar até em casa?

Helena hesitou. Cada parte racional de sua mente dizia para recusar. Mas outra parte, mais honesta, mais viva, queria prolongar aquele momento.

— Pode.

O trajeto foi ainda mais silencioso do que a ida. Havia mãos que quase se tocavam, respirações que se alinhavam. Ao chegarem em frente à casa de Helena, nenhuma das duas se moveu imediatamente.

— Obrigada pela noite — Helena disse, apoiando-se na porta do carro.

— Obrigada por confiar em mim — Laura respondeu.

Os olhares se encontraram mais uma vez. Dessa vez, Laura se inclinou levemente e depositou um beijo rápido no canto da boca de Helena — delicado, contido, mas suficiente para incendiar pensamentos que Helena sabia que não conseguiria controlar.

Quando entrou em casa, o silêncio pareceu mais pesado do que nunca. Ela encostou-se à porta, sentindo o coração acelerar. Sabia que algo havia mudado. Não apenas entre elas, mas dentro dela.

O desejo agora tinha forma. Tinha nome. E o segredo que carregava começava a parecer grande demais para continuar escondido.

Helena sabia: no próximo encontro, fugir não seria mais uma opção.

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