O acontecimento não veio como um escândalo. Veio como essas coisas costumam vir em cidades pequenas: um detalhe fora do lugar, um comentário atravessado, um encontro casual que não deveria ter sido visto por quem viu.
Helena percebeu que algo estava errado antes mesmo de entender o quê.
Era fim de tarde quando ela entrou no café do centro, procurando um lugar discreto para esperar Laura. O ambiente estava cheio, mais do que o habitual. Conversas baixas, risadas contidas, olhares que se levantavam rápido demais e se desviavam com atraso calculado. Ela sentiu o corpo reagir com um alerta antigo, aprendido à força em outros tempos.
Laura chegou alguns minutos depois. Ao cruzar a porta, os olhares se concentraram nela por um segundo mais longo. Não houve cochichos audíveis, mas houve um silêncio estranho, quase respeitoso — e isso foi o mais revelador.
— Eles sabem — Laura murmurou ao sentar-se.
Helena sentiu o coração acelerar.
— O quê, exatamente?
Laura respirou fundo.
— Não tud