Helena percebeu a mudança antes mesmo de alguém dizer qualquer coisa. Não foi um comentário direto, nem um confronto imediato. Foi o jeito como os olhares passaram a demorar um segundo a mais do que o normal. O silêncio que surgia quando ela e Laura entravam juntas em algum ambiente. A sensação incômoda de que algo que ainda era frágil começava a ser observado.
Ela conhecia bem aquela sensação. Já havia vivido isso antes, em outras cidades, outros contextos. A diferença agora era que não estava sozinha — e isso tornava tudo mais intenso.
Laura foi a primeira a verbalizar.
— Estão falando — disse, numa tarde em que dividiam um café na varanda.
Helena não fingiu surpresa.
— Eu imaginei.
— Não de forma explícita — Laura continuou. — Mas o suficiente para eu perceber.
Helena apoiou o cotovelo na mesa, respirando fundo.
— Isso muda alguma coisa pra você?
Laura demorou a responder. Não por dúvida, mas por cuidado.
— Muda o cenário — disse, por fim. — Não o que eu sinto.
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