Ana
Cheguei antes do sol acordar. A cafeteria ainda tava fechada, o cheiro de café dormido no ar e o silêncio só quebrado pelo barulho da minha chave batendo no balcão. Entrei me sentindo tipo funcionária do mês — ou melhor, candidata a.
Tinha varrido, esfregado, passado pano e até limpado o rejunte do chão no dia anterior. Eu queria ver se aquela supervisora de temperamento azedo ia conseguir achar um grãozinho de poeira pra reclamar.
Deixei a bolsa num canto, amarrei o avental e comecei a dar a última conferida. O balcão brilhava, os vidros pareciam espelho e até o lixo tava com cheiro de desinfetante. Me senti até orgulhosa.
Quando a porta abriu e Tamar entrou, eu já tava com o sorriso pronto.
Ela apareceu toda montada — rabo de cavalo alto, batom vermelho e aquela postura de quem acha que nasceu pra mandar. Carregava o celular na mão e um copo de café na outra, como se fosse dona do mundo.
— Bom dia, Tamar! — falei animada, quase cantando. — Cheguei cedo pra garantir que tava tud