Ana
A música mudava de tom como se tivesse sido feita de propósito para aquele momento. Começara com algo animado, divertido, mas agora batidas graves preenchiam o salão, lentas, arrastadas, como se alguém tivesse colocado um feitiço no ambiente.
As luzes douradas refletiam nos corpos pintados dos garçons, e a cada volta que eu dava com Lex, parecia que o mundo todo desaparecia, deixando só nós dois no centro daquele exagero.
Ele me puxava mais perto a cada compasso, como se a dança fosse só uma desculpa. Uma forma elegante de encurtar a distância entre nós sem precisar explicar nada.
O cheiro dele, aquela mistura absurda de perfume caro com algo cru e masculino, dominava meus sentidos. Meus pés se atrapalhavam um pouco nos saltos, mas eu fingia que não, porque o olhar dele estava fixo no meu rosto e parecia que se eu piscasse ia perder alguma coisa.
— Você dança melhor do que eu imaginava — murmurei, tentando soar casual, mas minha voz saiu meio falha, como se estivesse confessando