A bomba explode

Ana 

O quarto tinha se transformado em um cemitério. Só o barulho do ventilador quebrando o silêncio. E eu ali, sentada na beira da cama, ainda pelada, com o peito doendo de tanta humilhação.

Ele saiu. Me deixou no vácuo. Outra vez.

Meu orgulho gritava pra eu levantar, botar uma roupa e fingir que nada tinha acontecido. Mas tinha uma coisinha dentro de mim, venenosa, que não deixava.

Olhei pro lado. O celular dele jogado na cômoda.

O sangue gelou.

Não era certo. Não era bonito. Mas eu já tava no fundo do poço mesmo, né? Humilhada, rejeitada e com a cabeça fervendo.

—Quer saber? Foda-se.

Peguei o celular. A mão tremia, mas o ódio me dava coragem.

Senha? Ele nunca usava. Mark sempre foi desligado com isso. Achava que confiança era deixar tudo aberto.

Pois pronto. Desbloqueei.

Meu coração já batia na garganta.

Deslizei o dedo, devagar. Me sentindo suja, errada, mas, ao mesmo tempo, no direito. Afinal… ele tava me escondendo alguma coisa. Eu sentia.

E quando abri o aplicativo de mensagens… o chão sumiu.

Primeira notificação: -Preciso te ver. Hoje.-

A respiração sumiu. A vista escureceu.

Quem diabos era “L”?

Meu dedo gelou em cima da tela. Os olhos ardiam, mas eu continuei.

Rolei a conversa. Cada palavra era um tapa na minha cara.

—-Você tá sumido.

—-Ela não pode saber.

-Preciso que você faça de novo.

O estômago embrulhou. A cabeça girava. Senti o gosto amargo da traição subindo pela garganta.

Ele estava me traindo.

Mark. Aquele homem que me fazia sentir invisível na cama… tava se jogando nos braços de outra.

A ironia quase me fez rir.

—-Ela não pode saber.- É, querido, agora ela sabe.

Quis quebrar o celular no meio. Quis correr até ele e esfregar aquela tela nojenta na cara dele. Mas minhas pernas não obedeciam.

Fiquei ali, paralisada, olhando as palavras me envenenar. Meu peito doía como se alguém tivesse enfiado uma faca e girado.

Eu queria odiá-lo. De verdade. Mas, no fundo, o que eu sentia era pior que ódio.

 Eu me sentia suja, cada palavra fazia meu estômago revirar. Essa sensação horrível era  vergonha.

Vergonha por ter me jogado nos pés de um homem que nem me queria mais. Que tinha outra. Que preferia esconder mensagens do que encarar a própria mulher.

Eu sempre soube que ele escondia algo.

Mas saber… doía mais do que eu imaginava.

Meu corpo inteiro tremia. Mas o pior não era a traição.

O pior era o jeito que ele falava com ela.

Ele era carinhoso. Quente. Aquele homem que eu sentia falta na cama, ele tava sendo ali, nas mensagens.

—-Penso em você toda noite.

—-Só você me entende.

—-Preciso sentir seu cheiro.

Meu peito se quebrou no meio.

Eu sempre me perguntava por que ele não me tocava mais. Por que o sexo morreu. Por que ele virou esse iceberg dentro de casa. Agora eu sabia.

Ele tinha outra fogueira pra se aquecer.

Engoli o choro com força. Não ia chorar por ele. Não agora. Ainda não.

Em vez disso, comecei a fotografar tudo. Tirei print de cada mensagem, cada detalhe, como se eu fosse uma detetive idiota, juntando provas pra um crime que eu nem sabia se queria resolver.

Minha mão tremia tanto que quase derrubei o celular.

Mas eu continuei.

Porque eu precisava disso. Precisava da prova na cara dele. Precisava ver até onde ele foi.

O coração batia descompassado. Cada print era um soco, uma facada, uma cicatriz nova.

Até que uma mensagem nova chegou bem na minha frente:

-Hoje, no galpão. Sem desculpas.

Pronto. Era o convite pro meu inferno.

Meu primeiro instinto foi correr até ele e gritar até o mundo ouvir.

Mas aí… eu parei.

Respirei fundo, com o peito em brasa, e percebi que tinha algo ali. Algo estranho. Ele nunca foi bom de mentir, mas ele também não era burro. Por que deixar o celular dando sopa assim?

O Mark que eu conhecia era frio, mas cuidadoso. Sempre atento, sempre no controle.

Essa conversa estava fácil demais. Sem bloqueio, sem senha, sem rastros escondidos.

Franzi a testa, olhando de novo para aquelas mensagens. Comecei a reler tudo, agora com um olhar mais frio. Algo não batia.

Ele não chamava ninguém assim. Nem eu. Nem ninguém.

Tinha coisa ali.

O nome da pessoa era só um -L-. E eu não reconhecia aquele número.

Mas o convite… -galpão-… isso eu sabia exatamente o que era.

Era o lugar onde ele trabalhava de vez em quando. Onde escondia aquelas merdas de projetos e reuniões que eu nem entendia.

Meu coração deu um salto.

Será que eu tava lendo errado? Será que aquilo não era uma amante, mas outro tipo de segredo?

Mas antes que eu pudesse pensar direito… ouvi a porta abrindo.

Mark voltou.

E eu ainda tava com o celular dele na mão.

Pânico.

Foi a única coisa que senti.

Olhei pra porta, desesperada, com o coração saindo pela boca. Meus dedos tremiam, tentando bloquear a tela, apagar os rastros, qualquer coisa. Mas era tarde demais.

Ele entrou. Fechou a porta com calma. Os olhos dele vieram direto pro celular na minha mão.

O silêncio pesou entre a gente como um tiro.

Eu tentei disfarçar. Idiota. Como se fosse possível.

-Perdeu alguma coisa?- Ele perguntou, a voz baixa, perigosa, com aquele tom que fazia meu corpo inteiro arrepiar — de medo e de desejo.

Eu fiquei muda. Estática. Presa ali, nua, com o celular dele na mão, pegando fogo.

Ele caminhou devagar, como um predador.

-Curiosa, Ana?- O canto da boca dele puxou um sorriso torto. -Ou insegura?

Meu rosto queimava. A vergonha era tanta que eu mal conseguia respirar.

Ele parou na minha frente. Pegou o celular da minha mão, sem pressa, sem força. Só pegou. E olhou pra tela.

Quando ele viu a última mensagem aberta, o olhar dele mudou.

Mas não foi como eu esperava.

Ele sorriu. Um sorriso escuro, cínico, de quem sabia mais do que eu.

E disse, baixinho, no meu ouvido:

-Você não faz ideia do que acabou de descobrir Ana.

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