Ana
Meu estômago virou do avesso. O coração batia tão forte que parecia que ia rasgar meu peito por dentro.
—O que eu acabei de descobrir Mark?-perguntei de forma ironica.--Isso tá óbvio pra mim!
Mark respirou fundo e ficou ali do meu lado, parado, com o celular na mão, como se nada tivesse acontecido.
E o desgraçado… calado.
—Você não vai se explicar? Fala alguma coisa!!!-Gritei.
Ele levantou da cama sem dizer uma palavra. Pegou uma jaqueta dentro do armário, vestiu com calma, como se a briga não estivesse acontecendo, como se não estivesse me destruindo por dentro.
— O que está fazendo? você vai simplesmente sair? — Minha voz saiu seca e atormentada.— Vai fingir que nada aconteceu?
Ele não respondeu. Só começou a abotoar a jaqueta.
— Quem é L, Mark? Vai encontrar ela no galpão, é isso? A pergunta saiu mais alta do que eu queria. Doída, como se cacos de vidro rasgassem o meu peito. A sensação de traição me deixou transtornada.
Ele parou, virou o rosto pra mim, e os olhos dele… frios. Duros.
— Isso não é problema seu.
Eu gelei.
— COMO NÃO É PROBLEMA MEU?! EU SOU SUA NAMORADA, CARALHO!
Mas ele só respirou fundo como se eu fosse a louca da história e enfiou o celular no bolso como se fosse nada e caminhou até a porta.
Abriu com calma. Nem olhou pra trás.
— Esfrie a cabeça. Eu volto depois.
—ESFRIAR A CABEÇA??? MAS QUE PORRA VOCÊ TA FALANDO!!!-Gritei a plenos pulmões sem conseguir me segurar.
Ele saiu.
Deixando pra trás meu orgulho esmagado no chão… e a certeza de que alguma coisa muito errada tava acontecendo.
…
Decidi ali mesmo. Eu precisava saber a verdade. Com meus próprios olhos.
Não ia mais viver nesse teatro ridículo.
Peguei a primeira roupa que encontrei, calcei um sapato, e saí do quarto correndo, quase sem respirar.
Fui pro carro, com as mãos tremendo, e esperei.
O carro dele estava um pouco na frente. Eu observei antes de seguir. Ele estava sozinho e tranquilo com o celular na mão, provavelmente mandando mensagem para “L” seja lá quem fosse.
Segui atrás, sem piscar.
As ruas estavam quase vazias, mas dentro do carro eu tava uma bagunça.
Cada movimento dele era um soco no meu peito.
Ele dirigia como se nada tivesse acontecendo, como se eu não tivesse acabado de descobrir que ele escondia quem ele realmente era de mim.
Eu seguia de longe, com o coração martelando e a cabeça girando.
—Ele deve achar que é muito esperto, né?-pensei, amarga, com os olhos grudados nele.
As mensagens ainda rodavam na minha mente, repetindo igual disco arranhado.
A quanto tempo ele estava escondendo isso de mim?
Ele entrou na cidade, passando pelos mesmos lugares que a gente costumava ir juntos.
E eu ali, me sentindo a maior idiota do mundo.
De repente, ele virou numa rua mais afastada, onde ficavam restaurantes mais reservados. Na área da cidade onde ficavam os galpões onde ele trabalhava, esse era o ponto de encontro das mensagens deles.
Meu peito apertou.
Ele parou em frente a um lugar chique, daqueles que eu sempre sonhei em conhecer, mas ele nunca quis me levar pois era pra “mimizentos” que nasceram em berço de ouro como ele chamava qualquer pessoa com dinheiro.
—O que será que tem de tão especial hoje, hein, Mark?
Estacionei do outro lado da rua, com a adrenalina comendo no meu corpo.
E foi então que ela apareceu.
Cabelos soltos, andar confiante, um vestido justo que deixava pouca coisa pra imaginação. Com um sorriso largo de orelha a orelha, como se tivesse engolido um cabide.
Ele sorriu de volta pra ela como um bobo.
E eu… morri por dentro.
Eles entraram no restaurante como um casal perfeito.
Ele segurava a mão dela. Ela riu, jogando o cabelo pro lado, como se fosse uma personagem de novela em uma cena de câmera lenta. Revirei os olhos impacientes.
Meu coração já estava destruído.
Senti meu rosto queimar de ódio, vergonha e um nó sufocando minha garganta.
Tudo fazia sentido agora. Os sumiços. As desculpas esfarrapadas. O jeito frio na cama. As mensagens.
Ele tinha outra. Esse tempo todo ele tinha outra.
A confirmação estava bem ali, na minha cara, e doeu como uma facada.
Meu corpo inteiro tremia, mas eu não conseguia desviar o olhar.
Eles sentaram numa mesa reservada, perto da janela.
E, como se a vida quisesse esfregar mais ainda a verdade na minha cara, eu vi ele tocar o rosto dela com carinho.
Senti as lágrimas subirem, mas engoli todas.
Não ia chorar. Não ali.
Meu sangue fervia de raiva.
Continue observando, com uma faísca de esperança, minha mente lutando para continuar acreditando nele, torcendo para que tudo fosse um mal entendido.
Eu sabia que estava sendo uma estúpida por isso, mas como não ser…
Eu conheço o Mark desde que aprendi a andar. Ele era o vizinho irritante da casa do lado, aquele que roubava fruta do meu quintal e depois jogava no meu telhado só pra me provocar. Crescemos juntos, naquelas terras cheias de poeira e cheiro de mato.
Meus pais eram tudo pra mim… até o dia em que o fogo levou tudo. A fazenda, minha casa, e os dois. Num piscar de olhos, eu fiquei sozinha. Mark foi quem me segurou de pé. Me chamou pra morar com ele, na fazenda que tinha herdado do avô.
No começo, era só apoio, amizade… mas eu sempre amei ele. Desde moleca. E um mês depois que me mudei, a gente começou a namorar. Foi como viver dentro do meu próprio sonho. Eu estava ali, com o cara que eu amava, na mesma terra onde cresci. Mas o sonho começou a rachar. Um ano atrás, Mark começou a mudar. Ficava frio. Distante. O toque sumiu, o carinho evaporou.
Mas eu não queria aceitar que aquilo era verdade, até que os dois se inclinaram e começaram a se beijar, aquela cena me quebrou em milhares de pedaços.
Depois de dois anos achando que ele era o homem da minha vida, o homem que eu pensava que estaria comigo até o fim dos meus dias…
E é assim que ele me retribui!?
Não, não, não!
Ele vai me pagar por tudo isso.
A raiva me tomou e eu sabia que não ia deixar barato.