O ar ao redor deles parecia denso, quase irrespirável. A proximidade de Christopher era um desafio que Cristal sabia que não poderia manter por muito mais tempo. Ela deu um passo para trás, tentando recobrar a compostura, mas seus sentidos estavam inundados pelo toque, pelo perfume de Christopher, pela intensidade do olhar dele.
— Eu… não posso fazer isso — ela murmurou, sua voz vacilante. A luta interna entre o desejo e a lealdade era real, e a única coisa que Cristal sabia com clareza era que ela não poderia ceder ali, naquele momento. Não com Christopher. Ele permaneceu parado, o olhar fixo nela, como se estivesse avaliando se ela realmente queria se afastar. E, por um instante, Cristal acreditou que ele poderia avançar. Mas não fez. Apenas se manteve em silêncio, o que fez o espaço entre eles parecer ainda mais carregado de tensão. — Eu não vou forçar você, Cristal. — A voz dele estava tão controlada quanto o olhar, mas havia algo nela que denunciava o desejo contido. — Mas não se engane, o que você sente por mim… é real. Com um último olhar de cumplicidade, ele se afastou, desaparecendo de volta para o interior da festa. Cristal permaneceu ali, no jardim silencioso, tentando restaurar a calma que havia perdido. Mas não havia mais como negar que o desejo por Christopher estava ali, pulsando forte, impossível de ser ignorado. --- Mais tarde, naquela noite, o que deveria ser um momento de celebração com Raphael parecia mais uma obrigação. A grande cama no quarto de núpcias estava coberta com pétalas de rosa vermelhas, e as luzes suaves criavam uma atmosfera romântica que mal tocava o coração de Cristal. Seu marido, Raphael, ainda parecia distante, envolvido em suas próprias preocupações. Ele a olhou com um sorriso frio, mas cordial, como sempre fazia. — O que achou da festa? — ele perguntou, removendo a gravata com um gesto impessoal. Cristal forçou um sorriso, mas a verdade era que ela não conseguia pensar em outra coisa além de Christopher. O que ele tinha feito ali, no jardim, havia mexido com ela de uma maneira que ela não sabia mais como controlar. Aquele olhar, aquele toque sutil, aqueles sussurros proibidos. Raphael se aproximou, já sem a gravata, seus dedos se movendo ao longo da linha do vestido de Cristal com um toque mecânico. Ele a olhou de cima a baixo, avaliando-a, como se fosse mais um item em sua coleção de aparências. — Você está linda, como sempre. — Ele inclinou-se para um beijo, mas o gesto não tinha calor. Era apenas uma formalidade. Cristal fechou os olhos enquanto o beijo acontecia, o toque de Raphael sobre sua pele não fazendo mais do que reforçar a frieza que ela sentia em seu casamento. Ela sentia o peso da noite, o peso da obrigação. Sabia que deveria ser sua noite de núpcias, um momento de prazer e conexão com seu marido, mas a presença de Christopher ainda a perseguia, como uma sombra. Raphael a puxou para mais perto, e o desejo dele estava claro, mas Cristal não sentia nada. Ela o deixou conduzi-la até a cama, sem forças para resistir. O desejo não estava nela. Não agora. Ela fechou os olhos, tentando se perder na ideia de que isso seria normal. Mas, na verdade, ela se viu ainda pensando em Christopher, em como ele a havia tocado sem jamais a tocar de verdade, e como, agora, estava perdida em algo muito mais profundo do que o corpo poderia compreender. Raphael deitou Cristal na cama com uma suavidade calculada, um gesto mecânico que parecia tão distante da paixão que ela imaginava ser sua noite de núpcias. Ele a observou por um momento, seu olhar fixo nas curvas do corpo dela, mas havia algo frio e distante naquele olhar, como se ele estivesse apenas cumprindo uma formalidade. Cristal, por sua vez, se manteve imóvel, os olhos fechados, tentando afastar a imagem de Christopher que ainda dominava sua mente. O toque de Raphael, embora familiar, não era o que ela queria. Era o toque de um marido que a via apenas como um símbolo, algo para exibir, não alguém para tocar de maneira profunda, íntima. Ela sentiu o desejo de ser tocada, mas não por ele. Não mais. Raphael começou a desfazer o vestido de Cristal, suas mãos frias deslizando sobre a pele dela, fazendo-a se estremecer. Mas não era por prazer. Era por desconforto, por uma sensação de vazio que ela não conseguia evitar. Ele estava lá, mas ela não estava ali com ele. Não completamente. — Você está tão linda… — ele murmurou, e Cristal ouviu a sinceridade na voz dele, mas não a conexão. — Só para mim. Mas o que ele não sabia era que a mente de Cristal estava distante, presa ao desejo que ainda queimava dentro dela, aquele fogo que não se apagava, alimentado pela lembrança do toque de Christopher no jardim, das palavras dele sussurradas no ar. Raphael deitou-se ao lado dela, puxando-a para mais perto, e enquanto seus lábios procuravam os dela, Cristal não conseguia evitar o vazio que sentia. O beijo, embora profundo, não fazia seu corpo reagir da forma que deveria. Seus pensamentos estavam longe, ainda presos na figura de Christopher, em como ele a desejou sem sequer tocá-la de verdade. Ela ainda podia sentir a quentura daquele olhar, o toque suave da mão dele, o suspiro carregado de promessas não ditas. Raphael finalmente se afastou, os olhos dele observando Cristal com uma expressão que ela não sabia mais ler. Ele parecia ansioso, mas havia algo mais ali, talvez uma frustração, uma expectativa não correspondida. Ele sabia que algo estava errado, mas não sabia o quê. — O que foi? — ele perguntou, a voz baixa, quase impessoal. — Você está distante. Cristal abriu os olhos, encontrando o olhar dele. Havia sinceridade em Raphael, mas ela sabia que o que ele oferecia nunca seria o suficiente. Ela queria mais. Ela queria ser desejada como nunca foi antes. E, naquele momento, sabia que a única pessoa capaz de despertar esse desejo nela estava longe, em algum lugar que ela ainda não podia alcançar. — Não é nada, Raphael. Só… cansaço. — Mentiu, a voz vacilante, enquanto seus olhos buscavam algo que a libertasse de tudo o que estava sentindo. Mas Raphael, em sua natureza de controle, não parecia disposto a deixar isso passar. Ele se inclinou novamente, tocando o pescoço de Cristal com uma leve pressão. — Você está mentindo para mim. E eu não gosto disso. Mas o que ele não entendia era que Cristal não estava mentindo para ele. Estava mentindo para si mesma, tentando convencer-se de que sua vida, seu casamento, poderia ser o suficiente. Tentando convencer-se de que a noite de núpcias, o que deveria ser o mais íntimo e ardente dos momentos, poderia preencher o vazio que ela sentia. Enquanto ele a beijava mais uma vez, Cristal se entregou ao momento, não porque o quisesse, mas porque sabia que não havia escolha. Ela não sabia como explicar para Raphael que seu corpo não estava ali com ele. Que sua mente, sua alma, sua verdade, estava em outro lugar. E, sem que ele percebesse, o último resquício de seu desejo ainda estava reservado para Christopher.