O salão da mansão estava coberto de flores brancas, lustres de cristal e sorrisos que não significavam nada. Cristal segurava firme o buquê em uma das mãos, e com a outra, o braço de Raphael — seu agora marido. Ele parecia impecável no terno preto sob medida, os cabelos dourados penteados para trás e o olhar sério de quem sempre teve o mundo nas mãos.
Ela, no entanto, sentia o estômago revirar. Não de nervoso. Mas de incerteza. Raphael não era um homem carinhoso. Nunca fora. Era prático, direto e brilhante. Amava o poder, os números, os negócios. E talvez, em algum canto escondido, amasse Cristal — mas não mais do que amava a si mesmo. Ainda assim, ali estava ela, com um vestido justo que marcava cada curva, pronta para viver o "felizes para sempre" que todas invejavam. Tinham todos os tipos de milionários naquela luxuosa festa. Ninguém ousaria perder o casamento de um herdeiro Beckham. Mas Cristal não se importava com isso, ela nem conhecia essas pessoas mesmo. Foi então que os olhos dela encontraram os de Christopher. O irmão de Raphael. O oposto dele. Encostado discretamente em uma das colunas de mármore, o loiro de jaqueta escura a observava como se soubesse exatamente o que ela estava sentindo. Havia algo em seu olhar que queimava — algo proibido, algo perigoso. Os lábios dele curvaram-se num meio sorriso, como se dissesse: eu vejo você. Cristal desviou o olhar. Mas algo dentro dela já tinha sido tocado. E não havia mais volta. O som das taças se chocando, das risadas abafadas e dos aplausos preenchia o salão como uma névoa dourada. Cristal sorriu por educação, por protocolo, por obrigação. Cada beijo no rosto, cada parabéns, cada elogio ao vestido pareciam vir de um mundo que não era o dela. Mas o queimar nos olhos de Christopher ainda a seguia, como um toque invisível que deslizava pela pele. Mais tarde, no momento em que a música ficou mais alta e o salão mais cheio, Cristal escapou para o jardim. Precisava de ar, de silêncio, de um espaço onde pudesse ouvir os próprios pensamentos. Ou talvez quisesse, inconscientemente, ser seguida. E foi. — Bonito vestido. — A voz grave de Christopher veio atrás dela, firme como a mão que segurava um copo de uísque. Cristal virou devagar, encontrando o olhar dele outra vez. O escuro da noite parecia realçar o brilho nos olhos azuis que a encaravam com fome disfarçada. — Você devia estar lá dentro — ela disse, cruzando os braços, tentando soar indiferente. — Eu prefiro lugares onde as pessoas tiram as máscaras — respondeu, dando um passo à frente. — E você parece bem mais interessante sem a sua. Os olhos de Cristal estavam fixos nas mãos dele, que estavam agora muito mais perto, quase tocando sua pele. Ela podia sentir a energia pulsando entre os dois, carregada, como se a mínima mudança no ar fosse o suficiente para quebrar a barreira invisível que os separava. A respiração dele estava mais pesada, o que indicava que, assim como ela, ele também sentia o peso do momento. Mas, ao contrário de Cristal, Christopher parecia confortável com o desejo que se fazia presente. Ele se aproximou ainda mais, seu hálito quente acariciando seu pescoço. — Eu sei o que você sente — disse ele, a voz baixa, quase rouca. — Sei o que está pensando. Cristal tentou manter a compostura, mas havia algo em suas palavras, no modo como ele a observava, que fazia com que sua mente se tornasse um turbilhão. Algo em seu corpo começava a ceder, a se entregar a uma vontade que ela sempre tivera, mas que nunca ousou explorar. Ela deu um passo para trás, mas ao fazer isso, sentiu os joelhos quase cederem, como se o simples movimento a tivesse tirado do chão. Ele riu baixo, divertido, ao notar a fraqueza. — Não tente fugir de mim — ele sussurrou. — Eu sei que você quer. O olhar dele era afiado, penetrante, como se estivesse desnudando não apenas seu corpo, mas cada pensamento, cada desejo oculto. Cristal engoliu em seco. Algo em sua mente ainda tentava se segurar, ainda queria lutar contra o desejo, mas as palavras que saíram de sua boca foram outra coisa. — E o que você quer, Christopher? — perguntou, sua voz um misto de curiosidade e desafio, mas o tom estava mais suave do que gostaria de admitir. Ele sorriu, o olhar se tornando mais intenso, como se ela tivesse dado permissão para algo muito mais perigoso. — Eu quero que você sinta o que é ser desejada de verdade — ele respondeu com um sorriso que misturava satisfação e promessa. — Quero que se entregue, sem medo. O coração dela disparou. Uma parte de Cristal queria dar um passo para longe, voltar para a segurança do salão e de seu casamento. Mas outra parte — a parte que estava há muito tempo reprimida — queria se entregar a ele, saborear o proibido, o inalcançável. E então ele deu um passo ainda mais próximo. O toque dele, finalmente, encontrou sua pele, deslizando suavemente sobre o ombro de Cristal, fazendo com que uma onda de arrepio percorresse seu corpo. A proximidade dele, a intensidade do olhar, tudo parecia tomar conta dela, preenchendo os espaços vazios com algo mais forte do que qualquer restrição que ela ainda tentava manter. — Você já não está mais fugindo, Cristal. — A voz dele estava agora tão perto que ela podia sentir o calor dos lábios, quase tocando sua orelha. — Está apenas se permitindo… sentir. A palavra "sentir" parecia ter um peso maior agora, como se tudo ao redor desaparecesse, e o único som que restasse fosse o de seus corações acelerados. Cristal fechou os olhos por um segundo, lutando para manter o controle. Mas não havia mais como negar. A decisão, agora, estava prestes a ser tomada.