O café fumegava entre as mãos de Luna enquanto Mel, de olhos cansados, desabava toda a verdade. Estavam na varanda do apartamento de Luna, o céu de Maputo começava a ganhar tons dourados do fim de tarde, e a cidade parecia mais silenciosa do que o normal — como se escutasse.
— Eu encontrei o retrato, Luna. No ateliê antigo do Alessandro. E também recortes, esboços... até fotografias antigas. Ele já conhecia o Dário. Já sabia o que ele era.
Luna deixou a chávena pousada devagar sobre a mesa.
— E não disse nada?
— Por respeito. Por medo de parecer que queria interferir. Só me observava de longe. Como quem espera que eu acorde por mim.
Luna cruzou os braços, séria.
— E tu acreditas nele?
Mel assentiu com os olhos marejados.
— Sim. Pela primeira vez na vida, acredito mesmo em alguém. Porque ele não tentou controlar, não tentou dominar. Ele recuou para me dar espaço. Tu sabes o quanto isso vale?
Luna suspirou e endireitou-se na cadeira. O seu lado estratega, sempre escondido sob o sarcasmo