Aurora terminara de ler o primeiro capítulo de Sobrevivente da Casa Azul com um nó na garganta.
O texto era cru, direto, sem artifícios literários. Mas havia algo de imensamente poderoso naquela linguagem quase documental — como se a autora tivesse escrito com o sangue que não pôde derramar à época.
A história começava com uma lembrança aparentemente banal: a troca das roupas comuns por o uniforme azul desbotado da instituição.
“Ali, naquela troca silenciosa de tecido, deixei minha identidade e vesti o nome da casa. A partir daquele dia, eu era só mais uma sobrevivente entre as que não sabiam se iam sair dali vivas — ou sãs.”
A autora se apresentava como Lia, nome fictício. Dizia ter vivido entre seus 13 e 17 anos em uma instituição chamada Casa Azul, onde adolescentes diagnosticadas com distúrbios emocionais eram internadas para “tratamento intensivo”.
Mas o que descrevia ali não era tratamento — era silêncio, medo e castigo.
Lia falava de quartos escuros usados como punição, de medi