O céu daquela terça-feira parecia espelhar o humor de Aurora. Cinzento, pesado, prestes a desabar.
Desde que confrontara Helena, as coisas na escola mudaram. Não drasticamente, mas o suficiente para deixar um gosto amargo no ar. Alguns colegas agora cochichavam mais baixo, outros só desviavam o olhar.
Mas o que mais a incomodava era o silêncio.
Silêncio de Helena. Silêncio da mãe, que parecia ainda mais ausente do que antes. Silêncio dos professores, que cobravam como se o mundo não estivesse desmoronando.
Só Davi permanecia constante. Mesmo com todas as suas tempestades internas, ele era o único porto seguro que ela tinha.
Na saída da aula, a chuva finalmente caiu. Gotas grossas, frias, que molhavam até a alma. Aurora não se importou em correr. Deixou-se molhar. Sentia que merecia aquilo — ou talvez precisasse.
Davi apareceu do outro lado da rua com o capuz encharcado e um sorriso torto.
— Esqueci o guarda-chuva — ele disse, se aproximando.
— Eu também. Mas acho que ninguém nunca mor