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Capítulo 07 – Quando o Silêncio Grita

A semana passou como um borrão.

Aurora tentou manter a rotina: acordar, estudar, ignorar olhares, sobreviver aos dias como sempre fez. Mas havia algo novo. Um ruído constante no fundo do peito. Não era exatamente dor, nem ansiedade. Era expectativa. Davi tinha se tornado um pensamento recorrente. Um vício calmo.

E, aparentemente, o efeito era recíproco.

Ele agora passava por ela nos corredores e roçava a mão na dela, rápido demais pra ser notado, mas suficiente pra fazer o coração dela bater mais forte. Às vezes ele só lançava um olhar e isso bastava para desmoronar qualquer defesa que ela tentava levantar.

Mas naquela quinta-feira, tudo parou.

Aurora chegou à escola e não viu Davi em lugar nenhum.

Nem na primeira aula. Nem na segunda. Nem na terceira.

No intervalo, olhou em volta como se procurasse uma saída secreta no meio da multidão. Nada.

— Tá procurando alguém? — Helena surgiu do nada, com a voz carregada de implicância.

Aurora se virou devagar.

— E se eu tiver?

— Eu te conheço desde os sete anos. Você nunca ficou assim por causa de ninguém. O que tá acontecendo com você?

Aurora quis responder com raiva, com ironia, mas sua voz saiu apenas honesta.

— Eu não sei, Hel. Só... me importo.

Helena suavizou um pouco.

— Então tudo bem. Mas toma cuidado. Ele não é como a gente.

Aurora não respondeu. Porque talvez fosse justamente isso que a atraía. Ele não era como ninguém.

Ela passou o resto do dia inquieta. Nenhuma mensagem. Nenhum sinal de vida.

À noite, enquanto fingia estudar, o celular finalmente vibrou.

Davi:

“Desculpa sumir. Não tô bem.”

Ela encarou a tela por alguns segundos, com o coração acelerado.

Aurora:

“Onde você tá?”

Davi:

“Em casa. Mas não quero ver ninguém.”

Aurora:

“Então eu vou ficar aqui, sem te ver, só... do outro lado da porta. Pode ser?”

A resposta demorou. Longos minutos.

Davi:

“Tá. Mas sem drama.”

Vinte minutos depois, Aurora estava diante do prédio velho onde ele morava. Um sobrado de muros descascados e portão torto. Não era o tipo de lugar que seus pais aprovariam — se soubessem.

Ela não tocou a campainha. Apenas sentou no degrau da entrada, com o fone num ouvido e o celular na mão. Estava chovendo fino, mas ela não se importava. Estava ali, e isso bastava.

Depois de alguns minutos, uma janela se abriu discretamente no andar de cima. Era ele. Sem camisa, com o cabelo bagunçado e os olhos fundos.

— Você é louca — ele disse, sem gritar, só deixando a voz cair com o vento.

— Já me disseram isso antes.

— Podia ter ido embora quando eu disse que não queria ver ninguém.

— Mas eu quis ver você.

Ele desapareceu por alguns segundos. Aurora pensou que ele tivesse fechado a janela. Que a deixaria ali, como castigo pela insistência.

Mas então ele surgiu na porta. Moletom velho, chinelo, cara de quem não dorme direito há dias.

— Vem.

Ela entrou.

O quarto dele era pequeno, com uma cama de colchão torto no canto, estante improvisada com livros amontoados e desenhos colados na parede. Tudo tinha cara de refúgio e urgência.

— Eu tô com medo — ele disse, sem rodeios.

— Do quê?

— De você ver demais. E sair correndo.

Aurora se aproximou. Parou a um passo dele.

— Eu não corro, Davi.

— Todo mundo corre.

— Então eu vou ser a exceção.

Ele segurou o rosto dela com as duas mãos, como se precisasse ancorá-la ali. O toque era firme, mas gentil. Seus olhos estavam molhados — de chuva ou de algo mais, ela não soube dizer.

— Se eu te beijar agora, você vai me odiar depois?

Aurora sorriu, leve.

— Só se você parar no meio.

E ele não parou.

O beijo foi lento, um pouco trêmulo, mas cheio de verdade. Como se ambos soubessem que estavam entrando em território sem mapa. Um lugar onde o chão podia sumir a qualquer momento — mas mesmo assim, escolheram pular.

Quando se separaram, ele encostou a testa na dela.

— Isso é uma péssima ideia.

— Eu sei — ela respondeu. — Mas é a primeira que parece certa há muito tempo.

E ali, entre o cheiro de mofo e o calor dos corpos, não havia promessas.

Apenas a certeza de que o caos compartilhado machuca menos.

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