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Capítulo 08 – Estilhaços Invisíveis

Na manhã seguinte, Aurora acordou diferente.

Não porque havia dormido melhor — muito pelo contrário. Ela passou boa parte da madrugada de olhos abertos, encarando o teto e revivendo cada detalhe da noite anterior. O beijo, o calor das mãos dele, o silêncio confortável que veio depois.

Davi tinha algo que escapava de definições simples. Não era só um garoto problemático com uma história difícil. Ele era um universo inteiro, com partes que brilhavam e outras que doíam só de chegar perto.

E agora, Aurora estava orbitando esse universo sem saber onde era o centro da gravidade.

A escola parecia mais barulhenta naquela sexta. Gente demais, vozes demais, passos apressados demais. Aurora atravessou os corredores como uma sombra, tentando ignorar os olhares que agora pareciam mais intensos. Helena nem falou com ela — o que era pior do que qualquer crítica.

Na terceira aula, recebeu uma mensagem.

Davi:

“Tô aqui. Mas não tô bem.”

Ela olhou discretamente para a porta da sala. Sabia que ele estava por perto, mas não exatamente onde. O coração acelerou.

Aurora:

“Quer que eu vá até você?”

A resposta veio rápida.

Davi:

“Não. Hoje eu preciso que você não me veja. Só... segura firme aí. Me ajuda de longe.”

Ela mordeu o lábio inferior, sentindo um aperto desconfortável no peito. Ele estava se fechando de novo. E ela não sabia se devia respeitar ou lutar contra.

No almoço, Helena finalmente quebrou o silêncio.

— Você passou a noite com ele?

Aurora hesitou. Depois assentiu, devagar.

— Só conversamos. E... nos beijamos.

Helena revirou os olhos.

— Aurora... ele não é só “o garoto misterioso”. Ele é instável. Tem histórico. Você sabe disso, né?

— Eu não tô pedindo permissão pra gostar dele, Hel.

— Não é sobre permissão. É sobre você. Você sempre se machuca tentando salvar os outros.

Aurora desviou o olhar. A frase ficou martelando na cabeça pelo resto do dia.

Mais tarde, quando chegou em casa, ela viu que Davi tinha parado de responder.

Nenhuma mensagem. Nenhum sinal.

Ela tentou focar nos estudos, mas a mente não deixava. Cada parágrafo parecia se dissolver no papel. O celular ao lado dela vibrava com notificações inúteis, mas nenhuma era dele.

Quando deu 22h, ela não aguentou.

Aurora:

“Tá tudo bem?”

Nada.

Aurora:

“Se não quiser falar, tudo bem. Só me diz que tá vivo.”

Silêncio.

Ela jogou o celular no colchão e afundou o rosto no travesseiro. Sentia-se impotente. Como se estivesse em alto-mar, vendo alguém se afogar e não podendo nadar até ele.

Às 2h47 da madrugada, o celular vibrou.

Davi:

“Desculpa. Eu fico assim às vezes. Me tranco. Não é por você. É por mim.”

Aurora:

“Eu sei. Mas dói mesmo assim.”

A resposta demorou. Depois veio:

Davi:

“Se você quiser pular fora agora, eu entendo.”

Ela encarou a tela por um tempo. Então digitou devagar.

Aurora:

“Eu já pulei. Agora só preciso saber se você vai segurar minha mão ou me deixar cair sozinha.”

E dessa vez, ele respondeu mais rápido do que ela esperava.

Davi:

“Eu tô tentando, Aurora. Só não aprendi ainda como se segura alguém sem quebrar.”

Ela respirou fundo, com os olhos marejando.

Aurora:

“Então a gente aprende juntos.”

Naquela noite, mesmo distante, foi como se os dois estivessem deitados sob o mesmo céu, conectados por um fio invisível de dor e vontade.

Era o começo de algo frágil.

Mas também era real.

E às vezes, o que é real, mesmo que machuque, vale a pena ser vivido.

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