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Entre Sombras e Estrelas
Entre Sombras e Estrelas
Por: L.F. Wianoski
Capítulo 01 - A Chegada

As segundas-feiras sempre foram o pior tipo de começo.

O despertador tocou às 06h15, como um tapa na cara. Aurora o ignorou por longos três minutos até sua mãe bater na porta do quarto.

— Aurora! Você vai se atrasar!

Ela murmurou algo entre um "já vou" e um palavrão abafado no travesseiro. Levantou-se com o cabelo emaranhado e o humor enterrado em alguma cova emocional de domingo à noite. Colocou o moletom roxo de sempre, prendeu o fone no ouvido e desceu as escadas em modo zumbi.

No caminho até o colégio Montclair, Aurora contou as rachaduras na calçada. Sete. Sempre as mesmas. Era um ritual que lhe dava uma falsa sensação de controle. Entrar no portão do colégio, porém, era como atravessar uma ponte para um mundo que ela nunca quis fazer parte.

Montclair tinha de tudo: um pátio imenso, mural motivacional, diretora com voz aguda demais e um grupo seleto de alunos que dominavam os corredores como se fossem donos do lugar. Os "populares", claro. E ela? Ela era só Aurora: a garota dos fones, do caderno rabiscado e da postura invisível.

E era assim que ela gostava.

Ela se esgueirou até o armário, fingindo que o mundo ao redor não existia. Mas naquele dia, havia algo diferente no ar. Um murmúrio estranho se espalhava pelos corredores. Pessoas parando, olhando, cochichando.

Curiosa, Aurora ergueu os olhos.

E então o viu.

O garoto novo entrou como se estivesse atrasado, mas sem pressa. Carregava uma mochila rasgada com chaveiros de banda e um fone pendurado no pescoço. Os tênis estavam sujos, a jaqueta de couro tinha um rasgo no ombro e havia um curativo no queixo. Ele tinha cara de quem já tinha apanhado da vida — e sobrevivido.

Davi.

Ela não sabia o nome dele ainda, mas parecia óbvio que seria algo com peso. Um nome que combinasse com os olhos escuros e a expressão de quem não ligava pra ninguém ali dentro.

Ele passou por ela como se o corredor fosse só dele. E por um segundo — só um segundo — seus olhos cruzaram os dela.

Aurora engoliu em seco.

A conexão foi breve. Um instante congelado no tempo. Mas foi o suficiente para ela saber: aquele garoto ia bagunçar tudo.

Na terceira aula, a previsão se confirmou.

— E então, você pode se apresentar, por favor? — pediu a professora de História, com seu eterno sorriso forçado.

O garoto levantou o olhar devagar. Levantou-se como se fosse um castigo e falou, com voz baixa e firme:

— Davi Andrade. Acabei de me mudar. É isso.

Silêncio.

— Bem... obrigada, Davi. Pode se sentar ao lado de... Aurora.

Ela congelou. Vários olhares se voltaram pra ela. Aurora sentiu o rosto queimar.

"Ótimo", pensou. "Agora sou a garota que vai sentar com o Encrenca."

Davi chegou até a carteira ao lado da dela, jogou a mochila no chão e se sentou. Não disse nada. Também não olhou de novo. Apenas se recostou e tirou uma caneta do bolso.

A aula continuou, mas Aurora mal conseguiu prestar atenção. Os rabiscos no caderno começaram a ganhar formas sem sentido — espirais, setas, olhos. Era como se a presença dele alterasse o ar ao redor.

Na saída, ela o viu cercado por três caras do time de basquete. Eles falavam algo que Aurora não conseguia ouvir, mas o tom era claro: provocação.

Davi nem se mexeu. Só mastigava o chiclete com calma, como se aquilo fosse ridículo demais pra responder.

Foi aí que Aurora fez algo inesperado.

— Ei! Deixa o cara em paz — ela disse, num impulso.

Os garotos olharam pra ela, surpresos.

— E você, o que tem a ver com isso? — um deles rebateu, rindo.

— Nada. Só acho covarde vocês virem em três contra um.

Davi virou lentamente o rosto pra ela. E pela primeira vez, sorriu. Não um sorriso de agradecimento — mas um de reconhecimento. Como se dissesse: “Você é diferente.”

Os caras desistiram e foram embora rindo.

Aurora respirou fundo.

Naquele momento, sem entender direito como, ela sentiu que algo na vida dela tinha virado uma chave.

Talvez fosse só um garoto novo.

Ou talvez fosse o começo do fim da calmaria.

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