O outono avançava com pressa, e com ele uma mudança sutil pairava no ar da Constela.
Não era visível nos livros ou nas paredes da sede. Era algo mais interno. Uma inquietação que Aurora ainda não conseguia nomear. Talvez fosse o eco de um novo ciclo se formando — ou o silêncio entre duas fases que se tocavam sem saber.
Foi nesse clima que Clara chegou.
Não como autora. Nem como estagiária.
Clara apareceu como um bilhete manuscrito entregue por uma professora do interior de Minas Gerais durante um evento de literatura periférica em São Paulo:
“Sou filha de uma história que ninguém ouviu.
E agora, preciso contá-la antes que ela se apague até em mim.”
A professora disse que Clara tinha apenas 19 anos, morava numa comunidade rural isolada, e escrevia à mão em cadernos escolares velhos. Mandava textos por correio, nunca por e-mail. Não tinha celular.
Aurora ficou intrigada.
Dois meses depois, chegou um envelope amarelo, com caligrafia firme e simples. Dentro, um caderno dobrado, cheirando