Kalina tem sido apaixonada por Ardian, o melhor amigo do seu irmão, há muito mais tempo do que se lembra. Porém, no dia que resolve confessar seus sentimentos, acaba sendo brutalmente rejeitada por ele. Ela já havia começado a aceitar a ideia de rejeição quando descobre que Ardian agora será seu supervisor de estágio. Mas nem Ardian e nem a família de Kalina imaginam que ela vem levando uma vida dupla que agora corre o risco de ser completamente exposta.
Leer másO evento de gala da Lumina Creative era um espetáculo luxuoso. Gente importante por todos os lados, comidas sofisticadas, decoração impecável… e eu ali, fingindo ser a filha exemplar que todos esperavam que eu fosse.
Segurava uma taça de vidro entre os dedos. Poderia muito bem estar cheia de champanhe ou vinho, mas não. A filha perfeita não bebia álcool — nem socialmente. Então me contentava com um suco de morango sem graça, que combinava perfeitamente com o ambiente artificial à minha volta. Tudo naquele evento tinha a marca da minha mãe, Katherine Lancaster. Até as bebidas doces eram quase sem açúcar, uma das muitas regras absurdas dela para garantir que os eventos da Lumina fossem elegantes e saudáveis. Se fosse por mim, eu estaria em qualquer outro lugar. Mas o motivo de eu estar suportando tudo aquilo não estava longe dali, cercado por empresários e investidores. Ardian Driscoll. O evento não era sobre ele, mas poderia muito bem ser. Afinal, o que a StormRide Motors — a empresa de motos esportivas dele — estava fazendo ali? Simples: a Lumina cuidava do marketing para o lançamento do novo modelo da StormRide, o auge da noite. Ardian e meu irmão, Kalen, eram sócios e presidentes da empresa. E eu? Eu só estava ali para admirar Ardian. Ficava observando ele enquanto falava sobre a potência do motor projetado por eles, sobre a aerodinâmica revolucionária… Ele parecia absurdamente perfeito no terno sob medida, com o cabelo escuro bagunçado do jeito que eu adorava e aquela voz grave, tão segura. Mas é claro... ele não estava falando comigo. Posso fingir interesse em publicidade, fingir que quero administrar a empresa da minha família… mas não consigo fingir que gosto de motos. Eu amo carros. Sou completamente obcecada por mecânica de alta performance, mas motos nunca me encantaram. Mesmo assim, eu sorria, acenava, tentava prestar atenção — tentava parecer interessada. Eu entendia de motores, sim, mas as peculiaridades de uma moto ainda me escapavam. Mas será que era suficiente para que ele me notasse? Claro que não. Ele nunca me notava da forma que eu queria. Nunca me olhava do jeito que eu tanto desejava ser olhada. Todo mundo via minha paixão por Ardian como algo infantil, imaturo… irritante, até. Ele mesmo achava isso. Mas eu não desistia. Eu tinha certeza de que só precisava de mais tempo, mais esforço, mais alguma coisa para fazê-lo me ver diferente. Queria que ele enxergasse que meus sentimentos não eram rasos ou um capricho idiota. E hoje era minha chance. Depois da apresentação, teria a demonstração da moto ao vivo na pista. Ardian e Kalen correriam, e eu estaria lá — torcendo, como sempre. E então, depois da corrida, eu finalmente me confessaria. Não esperava que ele correspondesse de imediato, mas queria que soubesse. Que me visse como mulher, não como a irmãzinha irritante do melhor amigo. — Seja lá o que você estiver planejando, é melhor não fazer — ouvi a voz de Kalen atrás de mim e me virei para encará-lo, com um copo de uísque na mão como sempre. Revirei os olhos e coloquei minha taça em uma mesa próxima. — Não lembro de ter pedido sua opinião… Cruzei os braços, já me preparando para o sermão. — Não pediu, mas parece que você não consegue pensar racionalmente sozinha — ele debochou, tomando mais um gole. — E você não consegue parar de se meter onde não foi chamado — rebati rápido, já no modo defensivo. — Depois não diga que eu não avisei. Se a situação entre você e o Dian ficar mais constrangedora do que já é… — ele deu uma risadinha irritante — …não conte comigo. — Obrigada. É sempre ótimo contar com o seu apoio — falei com o máximo de sarcasmo possível antes de me afastar dele. Fui para o lado oposto, tentando ignorar as mãos que tremiam por causa da ansiedade. Claro que Kalen não entendia. Para ele, eu estava sendo obcecada, infantil. Achava que Ardian vivia pisando em ovos por minha causa, que eu não fazia o tipo dele — e todo mundo parecia saber disso, inclusive eu. Mas mesmo assim… por que eu não conseguia desistir? Talvez porque eu acreditasse, com cada fibra do meu ser, que esforço e dedicação podiam mudar tudo. E eu me esforçava tanto para ser notada por Ardian. Mudava meu cabelo, meu jeito de vestir, tentava parecer mais madura. Queria que ele visse que eu não era só uma garotinha boba com um crush. Queria que ele me visse. Vinte anos. Ele, vinte e sete. Talvez a diferença de idade fosse o motivo para esse romance andar tão devagar… ou talvez fosse o fato de eu ser irmã do melhor amigo dele. Existe quase uma lei universal entre homens que proíbe um romance assim. Respirei fundo, tentando ignorar a voz irritante do meu irmão ecoando na minha cabeça, e vi que Ardian estava sozinho, afastado de um grupo de empresários. Meu coração deu um salto. Caminhei até ele, tentando parecer confiante, mas cada passo parecia um desafio. — A nova moto está incrível, Dian… — minha voz saiu mais leve do que eu imaginava. Ele me encarou com uma expressão de leve desconfiança e assentiu com a cabeça. — Você assistiu à apresentação? — Claro! Eu não entendo nada de motos, mas qualquer um pode ver que foi tudo muito bem planejado. Ele deu um sorrisinho de canto. Aquilo me deu um fio de esperança. — E o que te impressionou mais? — ele me perguntou. Ai, céus. Pensei rápido. Eu não podia falar sobre o motor ou sobre a estrutura, mesmo tendo ouvido Kalen se gabar disso o dia inteiro. A verdade era que... ninguém sabia, mas eu estava no terceiro ano de Engenharia Mecânica. Nem mesmo minha família sabia sobre isso. — O design… As cores… — tentei parecer confiante. — Parece bem poderoso e esportivo… Ele quase riu. E eu sabia por quê. Parecia que eu só via a moto como algo bonito. Ele pegou uma taça de vinho, enfiou a outra mão no bolso e começou a falar. — Você está certa. Kalen e eu queríamos transmitir mais agressividade no visual. O chassi foi projetado pra reduzir o arrasto sem comprometer a estabilidade… Mordi o lábio. Queria tanto perguntar sobre o motor, cilindros, se usaram óxido nitroso na combustão… mas não podia. Tinha que me controlar. Só ouvir. — É… Parece que vocês conseguiram... — murmurei, sorrindo de leve. Ele me deu um aceno breve antes de voltar a atenção para os investidores que se aproximavam. Se afastou de mim sem pensar duas vezes. Nem hesitou. E lá estava eu. Invisível de novo. Passei a mão pelas ondas longas do meu cabelo e suspirei. A corrida seria o próximo grande momento da noite. E depois disso… seria a hora. Eu contaria tudo a ele. Observei enquanto ele e Kalen saíam para se trocar. Uniformes de corrida, claro. Ambos pareciam animados. As palavras do Kalen ainda ecoavam na minha mente, mas... Ardian havia falado comigo. Puxado assunto. Estava de bom humor. Era um bom sinal. Ótimo sinal. Mesmo com todo o pessimismo do meu irmão, eu não ia desistir. Eu sabia que havia uma chance. Por menor que fosse. Apertei os olhos e respirei fundo. — O pior que pode acontecer é ele dizer que não sente o mesmo… — sussurrei pra mim mesma. — Mas preciso ser otimista. Alisei minha saia e caminhei até a arquibancada ao lado da pista. Estava pronta. Ou pelo menos, queria acreditar que estava.Eu já estava estagiando na StormRide Motors há uma semana inteira e meu corpo já estava começando a sentir os efeitos da vida dupla. Eu não estava conseguindo dormir bem e minha alimentação estava uma bagunça. Por sorte, eu havia descoberto sobre o refeitório da empresa e estava usando intervalos de trinta minutos para comer algumas coisa quando estava perto das três da tarde. Sai da área do setor em que eu estava trabalhando e entrei no elevador, descendo até o terceiro andar do prédio. Caminhei pelo piso marmorizado brilhante e cheguei até o refeitório. O horário de almoço já havia passado há um bom tempo, mas ainda haviam opções de lanche. Havia uma mesa de frios e pães, frutas frescas, sucos e algumas sobremesas simples. Peguei uma bandeja e peguei tudo o que queria comer. Achei uma mesa vazia próximo a uma janela e me sentei para comer. – Posso me sentar com você? – Ouvi a voz masculina ao meu lado e não reconheci. Levantei meu rost
Quando meu turno na StormRide Motors acabou eu finalmente pude voltar ao meu pacífico mundo dentro da Valen, senti como se um grande peso tivesse sido tirado das minhas costas. Usei a maca para deslizar para debaixo de uma caminhonete Dodge Dakota que havia chegado na oficina e me ocupei em soldar o cano do escapamento.– Como tá indo sua vida dupla? – Vi os pés de Jay por baixo do carro. – Pior do que você imagina. – Respondi enquanto voltava a prestar atenção na chama do maçarico. – Está tão ruim assim? – Ouvi Jay rir. – Pra ser sincero, você não combina com o mundo corporativo. – Ah, jura? – Eu ri, desligando o maçarico e tomando impulso para deslizar para debaixo do carro. – Que tal me contar algo que eu ainda não sei? – Beleza. – Jay me olhou com diversão brilhando em seus olhos. – Aquele cara... O babaca que você gosta. Pisquei algumas vezes. – Ardian? – Me levantei rapidamente, olhando para Ja
Ainda estávamos na sala de reunião e eu ainda conseguia sentir o olhar curioso dele sobre mim. Lembro que semanas atrás eu teria vibrado de felicidade ao ser notada por ele tão claramente, mas agora eu só conseguia sentir o pânico se espalhando pelo meu corpo. Como sempre, eu havia falado demais. Deixado transparecer demais. Era um defeito meu, eu era óbvia demais. Eu nem conseguia entender como vinha conseguindo manter em segredo a vida dupla que vinha levando quando era tão ruim em manter minha boca fechada. Até mesmo quando era pro meu próprio bem.– Para de me olhar assim... – Eu estava mais vulnerável do que gostaria e minha voz soou suave demais.Ardian não respondeu de imediato. Apenas se recostou mais na cadeira, cruzando os braços, os olhos ainda fixos em mim como se me analisasse.– Você sempre teve esse problema com autoridade? – ele perguntou, com um leve tom provocativo, como se quisesse me desestabilizar.Revirei os ol
Na manhã seguinte, assisti as aulas a contragosto. Eu não havia tido tempo de tomar café e ainda estava com sono. Estudar e trabalhar em dois lugares diferentes – que exigiam práticas diferentes – estava me deixando maluca. A tarde, caminhei preguiçosamente pela calçada em direção ao prédio da StormRide Motors. Carregava comigo um sanduíche qualquer que havia comprado em uma lanchonete próxima e atravessei a porta dupla da empresa. Suspirei pesadamente e entrei no elevador. Ergui minha mão livre para pressionar o botão que fecharia as portas, mas uma mão atravessou as portas que estavam prestes a se fechar. Assim que as portas abriram totalmente mais uma vez, Ardian entrou no elevador junto comigo. Ele estava usando o cabelo completamente para trás, vestido em um terno sob medida que destacava ainda mais os ombros largos dele. Balancei a cabeça ao perceber que estava prestando atenção demais na aparência de alguém que havia
A sensação das peças metálicas contra os meus dedos e o cheiro de combustível eram minha combinação favorita. Desde pequena, eu sempre pensava que nunca encontraria nada que eu amaria o suficiente a ponto de querer passar o resto da minha vida fazendo isso. Mas à medida em que fui crescendo, desenvolvi um enorme apego por carros e quando me dei conta, eu já havia abandonado completamente a ideia de ser uma administradora e me inscrito nas aulas de engenharia mecânica. Eu sempre tive orgulho da Lumina Creative. Era o resultado de um esforço conjunto dos meus pais e permanecia firme mesmo nas piores crises. E sim, era um destino fácil. Eu apenas tinha que me formar em administração e assumir um cargo de importância dentro da empresa. Mas... essa facilidade toda me assustava. Era um imenso privilégio e eu tinha plena noção de que muitas pessoas queriam estar no meu lugar, mas não era o que eu queria. Eu sentia que se continuasse estudando alg
Quando terminei a análise SWOT que Ardian havia pedido já passava das cinco horas. Eu havia reunido todos os meus neurônios e me empenhado em conseguir fazer tudo sozinha, seguindo apenas as dicas de alguns professores de administração no YouTube e sequer sabia se havia sido o suficiente. Quando entreguei a análise finalizada para Ardian, ele apenas leu rapidamente e não me disse nada. O silêncio provavelmente queria dizer que não estava ruim o suficiente para precisar chamar minha atenção, mas também não estava bom o suficiente para merecer elogios. Porém, eu estava completamente satisfeito em estar no meio termo. Comecei a arrumar minha bolsa assim que entreguei as tarefas que Ardian havia pedido e me inclinei para desligar o computador que eu havia usado. – Precisa de carona? – Ouvi a voz de Kalen se aproximando de mim e Ardian estava com ele. – Não, e
Último capítulo