Os vidros do ônibus refletiam a cidade de um jeito embaçado. Luzes amareladas misturadas com o céu nublado, carros se arrastando no trânsito como se estivessem presos no tempo. Encostei a cabeça na janela, sentindo o frescor do vidro contra a pele, e por um instante quase cochilei.
Quase.Yves estava com Vanessa naquela tarde. Depois da sessão de fotos e do turbilhão da semana anterior, eu precisava de algumas horas sozinha. Não exatamente para descansar — eu já sabia que isso era luxo — mas para andar sem pressa, sem horários, sem fraldas na bolsa ou listas mentais de compras urgentes.Desci duas quadras antes do ponto de costume, só para mudar o caminho. As ruas estavam quietas, o tipo de silêncio urbano que parece sussurrar segredos pelas calçadas. Meus passos ressoavam baixos, e tudo parecia suspenso.Foi quando passei em frente à vitrine da “Galeria Armand”.Parei.Ali, pendurado sob uma luz direcionada, estava um colar idên