O salão do Hotel Rio das Pedras exalava um luxo discreto, com luzes âmbar filtradas por luminárias de vidro e um quarteto de jazz preenchendo o ar com notas que pareciam deslizar entre conversas elegantes.
Era o tipo de ambiente em que Gabriel sempre brilhou, mas naquela noite seu corpo estava ali, enquanto a mente permanecia presa na mesma imagem: o menino na calçada. O sorriso simples. Os olhos curiosos. O nome curto que acendeu algo antigo e profundo dentro dele.
Guilherme.
A palavra pulsava como eco preso no peito. Gabriel segurava uma taça sem realmente segurá-la, olhando ao redor sem ver ninguém. Só lembrava do garoto que podia — não, podia — ser seu filho.
— Gabriel? — Ana chamou, puxando-o de volta.
Ela estava impecável: vestido preto, coque perfeito, maquiagem precisa. Linda de um jeito calculado. O olhar atento demais — sempre atento demais.
— Você está estranho hoje — observou, estudando-o. — Aconteceu alguma coisa?
— Nada que importe agora — disse Gabriel, num tom f