O carro avançava pela estrada de terra batida, levantando uma neblina dourada sob o sol da manhã. O cerrado acordava devagar — pássaros cruzando o céu, árvores retorcidas balançando ao vento, pequenas casas ficando para trás. Mariana observava a paisagem pela janela. Não era fuga, mas parecia. Os dedos se entrelaçavam nervosos sobre o colo, a pele quente demais, o coração em ritmo desalinhado. O perfume de Gabriel — memória antiga e quase esquecida — tomava o espaço entre eles. Ele dirigia atento, porém o maxilar rígido revelava tudo o que ele tentava disfarçar. Estavam profundamente conscientes um do outro. Pela primeira vez em cinco anos.
Mariana quebrou o silêncio.
— O Matheus… ele é muito importante pro Gui.
Gabriel sorriu de lado, olhar preso à estrada.
— Eu sei. E não pretendo tirar isso deles.
Ela soltou o ar, quase aliviada, até que ele completou:
— Eu não vim pra arrancar meu filho de nada. Só quero entrar. No tempo certo. Do jeito certo. No ritmo de vocês dois.
Mariana