A cozinha ganhou vida ao primeiro barulho de pratos. Não era grande, nem moderna, nem silenciosa, mas naquele domingo ela parecia o centro do mundo. Guilherme sentou-se na cadeira de sempre, balançando as perninhas enquanto desenhava com lápis de cor: um sol torto, um cachorrinho e, no meio, três palitinhos de mãos dadas. Mariana observava de longe. O coração dela batia diferente — perigoso, intenso, parecido demais com algo que ela evitava sentir há anos. Felicidade.
Gabriel, por outro lado, encarava a gaveta de talheres como quem desmonta uma bomba.
— Essa… é a espátula? — perguntou, levantando um utensílio aleatório.
Mariana mordeu o riso.
— Isso é um pegador de salada.
— Ah.
Ele pegou outro.
— Isso aqui é…?
— Colher de arroz, Gabriel.
Mais um.
— E esse?
— Um descascador de legumes.
Guilherme gargalhou.
— Você não sabe cozinhar, moço?
Gabriel ergueu o queixo, digno.
— Sei sim… só não nesta cozinha.
Mariana cruzou os braços, humor suave nos olhos.
— Você não sabe faz