Kaleo
O mundo tem um talento especial para fingir normalidade quando a podridão transborda pelas bordas.
A sala de eventos parecia um altar ao bom gosto, lustres iluminados prontos para esconder a escuridão que habita em cada ser, champanhe abrindo em sussurros, orquestra discreta, gente rica treinada para sorrir mesmo com o dente quebrado.
E lá estava ela, a minha diabinha, com um vestido cor de noite e a postura ereta de quem ainda insiste em carregar um castelo nas costas. Bart havia implorado a Layla ao se ajoelhar na frente de todos na ONG dizendo que ela era o amor da vida dele, que nunca aconteceu nada entre ele e Soraya. Ele é um ator ruim, mas Layla não sabia a diferença.
Bart orbitava ao redor, a mão na cintura dela, a outra cumprimentando investidores. Soraya se movia pelas mesas como uma mosca perfumada, colhendo olhares, distribuindo risos. Eu fiquei na sombra de uma coluna, observando como um predador que já conhece cada passo da presa e, ainda assim, aprecia a dança.