Kaleo
A chuva tinha recomeçado, fina e insistente, quando encontrei Layla duas quadras depois, sentada no degrau de uma loja fechada. O vestido grudava no corpo, o cabelo pesado, as mãos nos joelhos como quem sustenta o próprio mundo.
Eu parei a dois passos. Não toquei. Respeitei o tamanho do silêncio.
— Vai embora. — ela disse, sem erguer a cabeça.
— Não.
— Eu não quero você.
— Eu sei. — Tirei o casaco e coloquei sobre os ombros dela — Não estou aqui para querer nada.
Ela mordeu o lábio até tirar cor. A água pingava do queixo. Por um momento, achei que ela ia continuar dura. Então o corpo cedeu um centímetro. Não muito. O suficiente para eu sentar ao lado.
— Eu me odeio. — ela sussurrou, engolindo a própria voz — Odiar deveria ser suficiente. Não é.
— Odiar nunca é suficiente. — respondi, encostando os cotovelos nos joelhos — Nem para mim.
— Eu dei outra chance. — Riu curto, sem humor — Para quem não merecia nem a primeira.
— Você deu chance a uma versão de mundo que queria preservar