O som dos passos se aproximou, lento, calculado. Valentina segurou a faca com mais força, o coração acelerando. Quem diabos estava vindo?
Dominic manteve os olhos fixos nela, como se estivesse assistindo a um espetáculo preparado só para seu entretenimento.
— Vai abrir a porta? — perguntou ele, com uma calma irritante. — Ou prefere que eu avise quem está lá fora que você está aqui?
Ela ignorou, avançando até a porta e espiando pela fresta. Um homem de terno escuro estava no beco, mãos nos bolsos, olhando em volta como quem sabia exatamente onde ir. Seus passos não hesitavam, e isso fez a pele de Valentina arrepiar.
Quando a porta se abriu, o homem sorriu.
— Senhor Ferraz… o senhor sumiu.
Valentina se colocou entre ele e Dominic, apontando a faca. — Mais um passo e você sangra.
O recém-chegado ergueu as mãos, como se não quisesse problemas, mas o olhar dele dizia outra coisa. Dominic se recostou na cadeira, como se estivesse em casa.
— Calma, Victor — disse Dominic, e a forma como pronunciou o nome soou como uma ordem. — A moça está… confusa.
Victor lançou a Valentina um olhar frio, calculador. — Quer que eu cuide dela?
— Não. — Dominic inclinou o corpo para frente, os olhos presos nos dela. — Quero que ela me diga… quem você achou que estava sequestrando.
Valentina manteve o silêncio, mas Dominic sorriu como se já tivesse a resposta.
— Achei que fosse só uma noite divertida. Mas você… você é um presente inesperado.
O ar no galpão parecia mais pesado. E, pela primeira vez, Valentina se deu conta de que talvez não fosse apenas Dominic quem corria perigo ali.
Valentina respirou fundo, tentando manter a expressão firme. O homem diante dela ainda estava preso, mas não parecia um prisioneiro. Era como se a cadeira fosse apenas um trono improvisado.
— Não tenho nada para te dizer — respondeu, mantendo a lâmina firme.
Dominic riu baixo, um som grave que arrepiou a nuca dela.
— Engano número dois da noite, princesa. O silêncio, às vezes, diz mais do que as palavras.
Victor ainda aguardava, imóvel, como um cão treinado que só atacaria quando seu dono mandasse. O olhar dele se movia entre Valentina e Dominic, avaliando distâncias, medindo riscos.
— Ela é boa — comentou Dominic, como se estivesse analisando uma obra de arte. — Mas ainda está bruta… amadora. Aposto que seu verdadeiro alvo não teria percebido até ser tarde demais.
O comentário foi um golpe certeiro no ego de Valentina, mas ela não piscou.
— E você acha que sabe de tudo, não é?
— Não acho. Eu sei. — Dominic inclinou o corpo, e por um instante, a luz fraca destacou a cicatriz discreta no maxilar dele. — E sei também que, agora que me pegou, não vai se livrar de mim tão fácil.
Ela arqueou a sobrancelha. — Isso é uma ameaça?
— É uma promessa.
O som de um carro parando do lado de fora fez Victor olhar para a porta. Dominic manteve-se impassível, como se já estivesse esperando.
— Convidados chegando — disse ele, com um meio sorriso. — Adivinha para quem eles vieram?
Valentina apertou a faca com mais força. Ela não sabia quem estava do lado de fora… mas sentia que, a cada segundo, estava perdendo o controle que acreditava ter.
E Dominic… parecia estar exatamente onde queria.
O som de portas batendo ecoou pelo beco, abafado, mas suficiente para acelerar o coração de Valentina. Ela deu um passo para trás, os olhos indo da porta para Dominic, tentando calcular a distância até a saída.
Ele, por outro lado, parecia relaxar ainda mais na cadeira, como se estivesse no camarote de um espetáculo que só ele conhecia o final.
— Você ouve isso? — perguntou, quase em tom de confidência. — É o som de que as coisas estão prestes a ficar… interessantes.
Victor se moveu pela primeira vez, um passo à frente, o suficiente para obrigá-la a ajustar a posição da faca.
— Quem está lá fora? — ela perguntou, tentando manter a voz firme.
Dominic não respondeu. Apenas manteve o olhar preso ao dela, intenso, estudando cada microexpressão como se pudesse arrancar respostas sem uma única pergunta.
— Curioso como o medo muda o brilho nos olhos de alguém… — murmurou. — Em você, ele parece… fascinante.
Valentina sentiu o sangue ferver.
— Não estou com medo.
— Então está mentindo. — Ele sorriu, lento. — Para mim ou para você mesma?
O som de passos ecoou mais perto, e uma sombra cruzou o vidro quebrado de uma das janelas. Valentina girou na direção, músculos tensos.
Dominic aproveitou para falar com voz baixa, quase um sussurro que roçou no ar entre eles:
— Última chance para me dizer o que realmente quer… antes que tudo mude.
A porta rangeu levemente, como se alguém tivesse tocado a maçaneta, e o coração de Valentina pareceu parar por um segundo.
E Dominic, com aquele maldito meio sorriso, sussurrou:
— O jogo começou, princesa. E você já está perdendo.