Capítulo 1 – O homem errado
A van aguardava no beco, motor ligado, faróis apagados. Valentina apertou o volante com força, sentindo o couro frio sob as luvas. O relógio no painel marcava 22h17. O alvo passaria a qualquer momento. Respire. Entre, pegue, saia. Nada de hesitar. Dois anos planejando aquele instante. Dois anos alimentando o ódio pelo homem que destruíra sua família, deixando o pai arruinado e a mãe doente. Ela sabia cada passo, cada hábito dele, até o cigarro barato que fumava antes de entrar no carro. O som de passos ecoou na rua deserta. Ela deslizou para fora da van, a arma de choque firme na mão. A silhueta se aproximava: alto, ombros largos, sobretudo escuro. Era ele. Tinha que ser. Quando o homem dobrou a esquina, o poste de luz iluminou parcialmente seu rosto. Ela mal registrou o olhar atento antes de agir. Avançou, encostou o cano frio no pescoço dele e apertou o gatilho. O corpo rígido tombou, pesado. Ofegante, ela o arrastou para dentro da van, prendeu seus pulsos com abraçadeiras e ajustou a venda sobre os olhos. Só então percebeu algo errado — o perfume. Não era o mesmo. Forte, amadeirado… e caro. A van percorreu alguns quarteirões até o galpão abandonado. Lá dentro, ela o jogou na cadeira e arrancou a venda. Os olhos que a encararam eram de um castanho tão escuro que quase pareciam pretos. Havia algo hipnótico e perigoso neles — e nenhuma sombra de medo. — Interessante… — ele falou, a voz grave, arrastada, como quem saboreia uma provocação. — Você não faz ideia de quem colocou nessa cadeira. Valentina sentiu o sangue gelar. Aquele não era seu alvo. — Quem é você? — ela perguntou, tentando manter a voz firme. Um meio sorriso surgiu nos lábios dele. — O homem errado. E naquele instante, ela entendeu que talvez não fosse a caçadora… mas a presa. Valentina tentou manter o controle da situação, ajustando a postura para não demonstrar a inquietação que começava a pulsar dentro dela. — Ótimo. Então me diga quem é, antes que eu perca a paciência. Ele inclinou levemente a cabeça, estudando-a como se ela fosse um enigma que valia a pena decifrar. Apesar das mãos presas e das pernas amarradas à cadeira, Dominic Ferraz — embora ela ainda não soubesse seu nome — exalava algo que nenhum cativeiro parecia capaz de prender: domínio. — Você me pegou como se fosse um fantasma… mas está claro que não sabe o que fazer agora, não é? — O tom era de provocação, quase um sussurro, mas carregado de confiança. Valentina aproximou o rosto, deixando a lâmina da faca brilhar sob a luz fraca do galpão. — Eu sei exatamente o que fazer. A pergunta é: você vai colaborar ou vai preferir o caminho difícil? Ele sorriu, mas o sorriso não chegou aos olhos. — Faça o seu pior. Um arrepio subiu pela espinha dela. Não era desafio de quem se sentia forte… era o de quem tinha certeza de que já estava ganhando. O celular dela vibrou no bolso, quebrando o silêncio. Uma mensagem piscava na tela: “Mudança de planos. Nosso alvo foi visto entrando em um restaurante no centro. Confirme a posição.” O coração de Valentina deu um salto. Droga. Droga. Droga. O homem diante dela percebeu a hesitação e se inclinou para frente, as correntes rangendo. — Parece que alguém cometeu um erro caro — disse ele, com um brilho perigoso nos olhos. — E agora… você vai descobrir quanto custa sequestrar o homem errado. A porta do galpão rangeu ao ser empurrada pelo vento. Lá fora, passos ecoaram na calçada. E foi nesse instante que Valentina percebeu que o verdadeiro perigo talvez estivesse apenas começando.