A cidade ainda bocejava quando o carro preto deixou Valentina na zona portuária. O ar salgado misturava-se ao cheiro de ferrugem; a neblina envolvia os contornos dos armazéns como se escondesse pecados. O motorista não perguntou nada. Abriu a porta. O resto era com ela.
Vaga 19. Galpão C. As instruções repassavam na cabeça como um mantra. Valentina desceu os degraus metálicos com passos precisos, a jaqueta leve escondendo o coldre de tornozelo e o celular preto rente ao corpo. O coração batia certo; a mão, estável. Ela não vinha para sobreviver — vinha para negociar.
Três homens a esperavam junto a uma mesa enferrujada. O do meio, cabelo penteado para trás, sorriso curto demais, estendeu a mão como se oferecesse um contrato já pronto para rasgar.
— Signorina Costa — disse ele, o sotaque cortando o ar — trouxe a mercadoria?
— Trouxe o que combinamos — respondeu ela, mantendo a voz lisa. — Metade agora, metade na próxima janela.
O homem sorriu por dentro, exibindo uma paciência