A sala de vidro era o único cômodo da mansão onde não havia sombras. Tudo ali era transparente: paredes, teto, a vista do vale lá embaixo — exposto, vulnerável, impossível de esconder.
Dominic gostava daquele lugar por um motivo simples: ninguém mente quando sabe que está sendo visto.
Valentina entrou sem bater.
Dominic estava de costas, diante da parede de vidro, o terno ainda impecável apesar da madrugada. Não falou imediatamente. Apenas continuou olhando para o horizonte — como se pudesse ver o galpão através de quilômetros.
— A operação foi limpa — Valentina disse, direta. — Metade paga, metade entregue. Próxima janela marcada.
Silêncio.
Dominic finalmente se virou.
O olhar dele não era o olhar de antes. Não era análise, nem controle. Era algo mais profundo — mais perigoso.
— Você acha que isso é o jogo? — perguntou, a voz baixa e serena demais. — Entrar, entregar o produto e sair?
Ela manteve o queixo erguido. — Cumpri o acordo. Sem falhas.
Dominic deu um passo