A limousine preta deslizou pelas ruas da cidade, refletindo as luzes noturnas como um espelho. Helena olhava pela janela, os olhos fixos em nada. Por dentro, um turbilhão.
Vestia um vestido vermelho de seda, justo na medida, com fenda lateral e decote discreto, mas marcante. O batom combinava com o tom do tecido — e com o veneno que agora corria em sua nova versão.
Leonardo entrou no carro pontualmente às sete.
— Vermelho. — disse apenas, observando-a de cima abaixo.
— Como pediu. — ela respondeu, sem tirar os olhos dele.
O silêncio entre eles era carregado demais para ser confortável. Mas nenhum dos dois parecia se importar.
O restaurante era luxuoso, reservado apenas para grandes empresários. Um piano tocava ao fundo e o cheiro de vinho caro misturava-se com perfumes refinados.
O investidor, Sr. Camargo, era um homem gordo e jovial, mas de olhos astutos. Helena percebeu logo: ele era do tipo que menosprezava mulheres — e fingia não perceber quando as olhava demais.
— Leonardo, você não me disse que vinha com uma obra de arte. — disse Camargo, sorrindo torto para Helena.
Ela sorriu de volta, gelada.
— Às vezes, é melhor deixar o impacto acontecer ao vivo. — respondeu Leonardo, olhando de soslaio para ela, cúmplice.
Helena assumiu a conversa com maestria. Falou de mercado, estratégias, inovações. Enfrentou interrupções e risos condescendentes com a calma de uma profissional treinada. Mas o olhar de Leonardo nela… era de fascínio silencioso.
A certa altura, enquanto Camargo se perdia numa longa história de negócios, Leonardo se inclinou para ela e sussurrou:
— Está roubando a cena.
— Está com ciúmes? — ela provocou, sem olhar para ele.
— Estou observando. Analisando. — ele murmurou. — E desejando não ter te trazido.
Ela arqueou a sobrancelha, enfim encarando-o.
— Por quê?
— Porque homens como Camargo não merecem te ouvir. — ele respondeu, baixo. — E eu... não gosto de dividir minha atenção.
Helena sentiu um arrepio. Era um elogio, uma confissão e uma ameaça velada, tudo ao mesmo tempo.
O jantar terminou com um aperto de mãos e promessas de contratos. Camargo foi embora, rindo alto, deixando-os a sós na calçada de mármore polido.
O motorista demoraria alguns minutos.
— Você foi perfeita. — disse Leonardo, com as mãos no bolso.
— Eu sempre sou. — Helena respondeu, cruzando os braços.
O vento soprou frio. Leonardo tirou o paletó e colocou nos ombros dela. O gesto a pegou de surpresa.
— Ainda não entendo seu jogo, Helena.
— Talvez porque você esteja dentro dele. — ela respondeu.
Ele se aproximou. Agora os dois estavam sozinhos. A rua silenciosa, o céu carregado.
— Está me desafiando desde o dia em que entrou naquela sala.
— Estou apenas mostrando que não sou invisível.
— Não é. — ele disse. — Está se tornando… indispensável.
As palavras ficaram suspensas no ar.
Helena aproximou-se mais, até estar a poucos centímetros dele. Os olhos nos olhos. O coração batendo como tambor.
— Vai me beijar? — ela sussurrou.
Leonardo tocou o rosto dela, com os dedos frios e firmes.
— Não. Ainda não. — respondeu. — Não quero que você pense que é mais uma jogada.
— E não é?
— Não sei. — ele disse. — E isso me assusta.
O carro chegou. Ele abriu a porta para ela.
Helena entrou sem olhar para trás, mas sentia o olhar dele queimando em sua nuca.
E ali, dentro do carro escuro, com o paletó dele sobre os ombros, Helena soube que o jogo estava ficando perigoso demais.
E era exatamente isso que a fazia querer continuar.