O Preço do Silêncio

A campainha soou cedo naquela manhã de sábado.

Helena estranhou. Ninguém costumava visitá-la sem avisar. Abriu a porta com cautela — e parou ao ver a figura imponente de seu pai, Augusto Duarte, no corredor do prédio.

— Podemos conversar? — ele disse, com o tom autoritário de sempre, como se ainda estivesse em sua casa, em sua vida.

Helena respirou fundo e abriu passagem, sem esconder o desagrado.

— Entre. Mas não finja que está aqui por mim.

Augusto entrou, analisando o apartamento com um olhar crítico, como se nada nunca fosse suficientemente bom para sua filha mais velha.

— Está vivendo bem, pelo visto. — murmurou.

— Diga logo o que quer, pai. Não vim ao mundo pra entreter fingimentos.

Ele a encarou, sério.

— Vai haver um jantar de noivado para Isadora e Gabriel na próxima semana. Você precisa estar presente.

Helena riu. Um riso seco, dolorido.

— Está brincando comigo.

— Não estou. — ele respondeu, direto. — Será discreto, apenas para a família e pessoas próximas. Já demos muitas explicações. Sua ausência só alimentaria fofocas.

— A minha presença também. — ela rebateu. — Todos sabem que ele era MEU noivo.

Augusto andou pela sala como um general prestes a dar ordens.

— Por isso mesmo. Precisamos que você... esclareça a situação.

— Como assim?

Ele virou-se com o olhar frio e implacável.

— Queremos que você diga que terminou com Gabriel porque descobriu que ele amava sua irmã. Que foi uma decisão sua… por amor à família.

Helena ficou em silêncio por segundos longos. O sangue pulsando nas têmporas. Os dedos tremendo.

— Então é isso? Quer que eu me humilhe publicamente… para limpar a sujeira da Isadora?

— Isso é sobre preservar o nome dos Duarte. Já estamos sendo alvos de comentários. Investidores, amigos, parceiros... todos observam. Isadora é uma menina doce, emocional. Você é forte. Sempre foi. Você aguenta. Ela não.

— Eu aguento? — a voz dela subiu, carregada de dor. — Aguentei crescer sendo deixada de lado enquanto vocês bajulavam uma estranha. Aguentei ver minha irmã adotiva ser chamada de “filha do coração” enquanto eu era a sombra. Aguentei Gabriel me trair, e vocês darem as costas. E agora... querem que eu me ajoelhe e diga que a culpa foi minha?

Augusto manteve o semblante rígido, mas havia algo nos olhos dele. Não culpa. Apenas vergonha social.

— Faça isso e tudo voltará ao lugar. Prometo.

— O lugar de quem? O meu nunca existiu nessa família.

— Não faça drama. Você sempre teve tudo.

Helena se aproximou, os olhos brilhando de raiva.

— Eu tive tudo, menos amor. Menos respeito. Menos a chance de ser vista como alguém que importa.

Augusto endureceu o tom.

— Você deve isso à sua irmã.

— Eu não devo nada a ninguém. — ela respondeu, baixa. Firme. — E se acha que vai me manipular com esse discurso de honra familiar, errou de filha.

Ela deu um passo atrás e apontou para a porta.

— Saia da minha casa, Augusto. E leve com você essa ideia podre de que eu existo para sustentar as mentiras de vocês.

Ele hesitou. Pela primeira vez, hesitou.

Mas saiu. Sem dizer mais uma palavra.


Sozinha, Helena caiu no sofá, o peito arfando.

Lágrimas vieram — mas não as mesmas de antes. Não eram de fraqueza. Eram de raiva. De indignação. De promessas silenciosas.

Ela pegou o celular. Ligou para a única pessoa que parecia enxergar sua verdadeira força.

— Alencar? — disse, quando ele atendeu. — Preciso de um favor. Um convite.

— Para quê?

— Para o jantar de noivado da minha irmã. Eu quero estar lá.

— Tem certeza?

— Tenho. — ela disse, com um fio de veneno na voz. — Mas dessa vez, não vão me silenciar. Vão me ver.

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