O amanhecer trouxe uma luz tímida, mas nem mesmo os primeiros raios conseguiram quebrar a atmosfera carregada que pairava sobre a casa. O silêncio era interrompido apenas pelo som da respiração instável de Elô.
Ela acordou devagar, sentindo o corpo pesado, cada músculo doendo como se tivesse sido rasgado e costurado de novo. Ao abrir os olhos, viu Clara adormecida numa cadeira ao lado da cama e Miguel, sentado no chão, encostado na parede, a espada repousando ao alcance da mão.
— Vocês... não dormem? — a voz dela saiu rouca, quase irreconhecível.
Miguel se levantou imediatamente. — A gente se revezou. — Seus olhos buscavam os dela, como se precisassem garantir que ainda eram os olhos de Elô, não aquela escuridão que havia tomado conta horas antes.
Ela tentou sorrir, mas logo desviou o olhar. Havia algo latejando dentro dela, um incômodo que não vinha das feridas. Era como uma chama oculta, pulsando, viva.
Clara acordou com o movimento e, ao ver Elô desperta, segurou sua mão com força.