O domingo amanheceu lento, como se a cidade tivesse gastado toda a energia no dia anterior. Isadora despertou com o corpo cansado, mas sem aquela vertigem que vinha junto do medo. Ficou alguns minutos deitada, ouvindo os sons da rua — um vendedor de frutas montando a banca, alguém varrendo a calçada, o latido breve de um cão — e deixou a mente voltar, inevitavelmente, ao rosto de Gabriel na livraria. Ele tinha aparecido, como prometera no bilhete, e no entanto… ela não cedeu. A lembrança de ter permanecido ereta, com a voz firme, lhe devolveu uma dignidade íntima.
Levantou, fez café solúvel com o pouco que tinha, e abriu o caderno. Escreveu: “Se o medo insiste, eu insisto de volta. Ontem eu não fugi.” Fechou e encostou a palma da mão sobre a capa, como quem sela um pacto.
O celular vibrou. Uma mensagem de Rafael: “Dormiu?” Ela sorriu, meio sem jeito, e respondeu: “Pouco, mas acordei inteira.” Ele rebateu quase em seguida: “Inteira é suficiente. Te vejo amanhã antes do expediente.”
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