O sábado começou cedo, com passos apressados ecoando pela calçada diante da livraria. Não havia solenidade oficial, nem fitas de inauguração, mas havia expectativa no ar. O mutirão da Casa da Palavra se tornara ponto de encontro: vizinhos traziam baldes, pincéis, ferramentas improvisadas. Crianças carregavam latas de tinta como se fossem tesouros; jovens se revezavam entre escadas e rodos. O cheiro de tinta fresca misturava-se ao de café passado no balcão, enquanto as janelas eram abertas para receber o sol e a poeira acumulada era varrida sem pressa.
Isadora observava tudo com um misto de espanto e gratidão. A cada pincelada nas paredes, sentia como se a dor do passado fosse sendo coberta, não para ser apagada, mas para se transformar em base de algo novo. A livraria já fora abrigo e resistência; agora, sob as mãos de tantos, tornava-se casa coletiva. Rafael, com o rosto manchado de tinta branca, organizava os turnos do trabalho. O padeiro trouxe pães quentes para reforço da manhã. A