A manhã nasceu lenta, envolta em um silêncio que parecia feito de ouro. O sol filtrava-se por entre as folhas da mangueira, desenhando sombras dançantes no chão de terra batida. O cheiro do café recém-passado misturava-se ao perfume das flores que cresciam junto à varanda. Isadora abriu as janelas e respirou fundo, como quem sorve o mundo inteiro em um só fôlego. A paz que sentia agora não era ausência de movimento — era equilíbrio.
Rafael já estava no quintal, mexendo na cerca nova que construíra com as próprias mãos. O cachorro o seguia em passos tranquilos, como um fiel ajudante. Quando a viu, ele ergueu o rosto e sorriu, aquele sorriso simples que carregava todas as palavras que nunca precisavam ser ditas. Ela caminhou até ele, descalça, e parou ao seu lado, observando o rio ao longe. A correnteza parecia mais lenta naquele dia, como se até a água tivesse aprendido a descansar.
— Está diferente hoje — disse ela.
— Talvez seja a gente que está — respondeu Rafael, com voz mansa.
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