46. A AMEAÇA DE LUCAS
A noite caiu com um silêncio estranho, quase ameaçador. O céu, encoberto por nuvens pesadas, parecia refletir exatamente o que se passava no coração de Deise: uma tempestade prestes a explodir. Ela havia passado o dia entre pensamentos e decisões. Tinha arrumado discretamente algumas coisas, sem fazer alarde. Sabia que cada passo precisava ser calculado. Ainda não era livre — mas já não se sentia prisioneira. E isso fazia toda a diferença.
Estava no quarto, lendo mecanicamente as páginas de um livro qualquer, quando ouviu a porta da frente bater com força. O som dos sapatos masculinos ecoando pelo piso de mármore da casa denunciava quem acabara de chegar. O cheiro amadeirado do perfume caro invadiu o corredor antes mesmo de sua presença.
Lucas.
Ele surgiu à porta do quarto com o mesmo sorriso artificial de sempre — aquele que não alcançava os olhos.
— Boa noite, querida. — disse, com uma falsa leveza, como se ainda existisse entre eles qualquer traço de normalidade.
Deise sequer ergue