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E Se a Primavera Não Passasse

E Se a Primavera Não PassassePT

História Curta · Contos Curtos
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Resumo
Índice

No sétimo ano de casamento, Cecília Lacerda descobriu que o marido, Vinícius Azevedo, tinha um filho de seis anos. Se escondeu atrás do escorregador do jardim de infância e viu Vinícius se inclinar para abraçar um menino pequeno, rindo com ele. — Papai, você demorou tanto para me ver de novo. — Querido Lulu, o papai tem trabalhado muito. Você precisa escutar bem a mamãe, tá? As palavras caíram sobre ela como um estrondo. Ficou imóvel, a mente em branco. Um homem e um menino, semelhantes até nos traços mais sutis. Tudo gritava a mesma verdade: o homem que jurou amar para sempre já a havia traído há muito tempo. Eles eram amigos de infância, companheiros de tantos anos. Um dia, ao salvar ele, ela foi atingida no ventre por uma faca — perdeu o filho que carregava e, com ele, a chance de ser mãe. Naquele momento, Vinícius se ajoelhou ao seu lado, os olhos vermelhos, e disse com a voz trêmula: — Não quero filho nenhum. Quero apenas você. A lembrança daquele juramento ainda ecoava em seus ouvidos. Mas a cena diante de si reduzia tudo a pó.

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Capítulo 1

1

Cambaleando, Cecília Lacerda recuou como se o coração tivesse sido dilacerado em mil pedaços por uma lâmina afiada, sangrando por inteiro.

Não teve coragem de olhar de novo. Tinha medo de se lançar contra Vinícius Azevedo, de exigir explicações. Mas temia ainda mais se tornar uma caricatura trágica, uma mulher desprezada, chorando na frente de todos.

Virou as costas e fugiu.

Na porta do jardim de infância, sua amiga Iris Bastos já a esperava fazia tempo. Ao ver ela pálida, desceu do carro às pressas.

— Ciça, o que aconteceu com você? Noah disse que você esqueceu alguma coisa e voltou pra buscar... Mas afinal, o que houve?

Noah era o filho de Iris. E foi ela quem insistiu para que Cecília a acompanhasse na reunião de pais daquele dia.

Cecília estava lívida. As lágrimas já ardiam nos olhos.

— Iris... Preciso que você investigue alguém pra mim.

— Quem?

— Vinícius... — Engoliu em seco, a voz rouca — Ele tem um filho.

[Amor, ainda falta uma semana pra eu voltar. Sentiu minha falta?]

Cecília encarava a mensagem enviada por Vinícius, enquanto as lágrimas escorriam dos olhos como contas arrebentadas de um colar, caindo sem parar.

Todos os anos, em julho, ele viajava por duas semanas a trabalho... dizia que ia inspecionar as filiais internacionais.

Durante seis anos inteiros, ela nunca desconfiou de nada.

Mas a realidade deu a ela um tapa cruel no rosto, zombando da sua ingenuidade.

Vinícius nunca esteve em viagem. Ele ia era ficar com a amante e o filho bastardo.

Se não fosse pelo acaso daquela manhã, talvez continuasse sendo enganada.

Num impulso quase masoquista, Cecília revia repetidamente as fotos em suas mãos. Do lado de fora, a chuva caía em pancadas violentas. De tempos em tempos, um relâmpago iluminava seu rosto, pálido como papel.

Talvez essa cena... ela já devesse ter previsto.

A família Azevedo sempre foi tradicional. Como poderiam aceitar uma mulher estéril como esposa do herdeiro?

A menos que... tudo já estivesse planejado desde o início.

E aquele homem que dizia amar ela com tanta devoção, que papel ele realmente desempenhava nisso tudo?

O coração de Cecília se contorcia em dor. Ela e Vinícius cresceram juntos, lado a lado, e todos ao redor sempre disseram que eles nasceram para ficar juntos.

Aos oito anos, ela caiu de uma árvore, e ele, sem pensar, se jogou para proteger ela. Quebrou o braço e ainda riu, dizendo que não doía nada.

Aos doze, ela manchou a saia com sangue pela primeira vez. Ele sabia o que era, mas mesmo assim chorou, dizendo que queria morrer por ela.

Aos dezoito, participou escondido de uma corrida ilegal, quase perdeu a vida, e voltou com um anel para se declarar.

— Ciça, eu vou te amar pra sempre.

O amor adolescente é sempre puro e arrebatador.

E foi assim que o coração de Cecília foi conquistado, sem volta.

Na véspera do casamento, Cecília foi sequestrada pelos inimigos de Vinícius. Ficou em cativeiro por três dias e três noites. Quando a encontraram, estava entre a vida e a morte.

Para salvar ela, Vinícius teve três costelas quebradas. E foi ali, naquele instante de caos, que Cecília se lançou na frente dele para tentar proteger o homem que amava e perdeu para sempre a chance de ser mãe.

Ao saber de tudo, Isadora Azevedo, a mãe dele, pensou seriamente em separar os dois.

Mas Vinícius, ainda com o corpo coberto de feridas, ajoelhou-se no templo ancestral da família Azevedo. Ficou ali por três dias, em jejum, sem dizer uma palavra. Até que finalmente gritou:

— Prefiro perder o nome Azevedo a perder a Ciça!

Foi só então que Isadora cedeu.

Assim que os dois se recuperaram, casaram-se sem demora. Toda Vellanorte testemunhou aquele amor digno de lenda.

Mas, no fim... ele ainda a traiu.

O toque do celular a tirou do torpor.

Na tela, um nome que agora soava como uma piada:

"Amor".

Cecília atendeu, o gesto quase automático. Do outro lado, a voz doce de Vinícius:

— Bebê, você tá comendo direitinho? Sentiu minha falta?

Antes, ela teria mergulhado naquela doçura, teria se jogado nos braços dele com o coração batendo descompassado.

Mas agora, temia que, ao abrir a boca, o choro a traísse.

— Amor? Aconteceu alguma coisa? Não fica com medo, eu volto agora mesmo!

A voz dele soava aflita. Ela podia imaginar ele já se levantando, pronto pra voltar correndo.

Mas Cecília não queria ver ele. Não agora.

— Tá tudo bem. — Murmurou, num esforço pra não desmoronar. A voz saiu rouca, quase irreconhecível. — Não volta, o trabalho é mais importante. Eu só tô um pouco gripada.

Foi a primeira vez que mentiu para Vinícius.

Ele pareceu não notar. Talvez algo do outro lado da linha o distraísse. Ainda assim, fez questão de insistir, preocupado:

— Então descansa um pouco, me liga depois, tá? Não me deixa preocupado.

Cecília concordou, com a voz embargada.

Estava prestes a encerrar a ligação quando ouviu, do outro lado da linha, uma voz feminina, melosa e íntima:

— Vini, o Lulu já dormiu. Agora a gente pode...

Na mesma hora, percebeu a respiração de Vinícius ficando mais pesada. E então, o silêncio. A chamada foi encerrada de forma abrupta.

Cecília apertou o celular com tanta força que os dedos ficaram brancos. O frio que tomou conta do peito era impossível de conter.

Ele estava com aquela mulher. Ela não teve coragem de seguir a linha de pensamento.

Um som sufocado escapou de sua garganta, um choro irregular, fora de controle. Era como se mãos invisíveis apertassem seu coração até estraçalhar isso.

Ela até quis acreditar, por um tempo, que Vinícius estivesse apenas tentando cumprir uma obrigação com o filho.

Mas agora tudo indicava o contrário. Ele estava ali por vontade própria.

Iris percebeu algo estranho e entrou no quarto às pressas. Congelou diante da cena. Cecília estava desfeita, o olhar vazio, a alma despedaçada.

Ela, sempre impulsiva, pela primeira vez hesitou em se aproximar, confortou:

— Ciça, por um homem assim, não vale a pena.

Uma lágrima caiu sobre a foto que Cecília segurava. O som do impacto parecia mais alto do que deveria.

Iris a envolveu num abraço apertado, furiosa, inconformada.

— Ele não presta! — Rosnou entre dentes. — Quando te pediu em casamento, te prometeu o céu. E agora tem a cara de pau de sustentar mulher e filho por trás de você!

Cecília fechou os olhos. Não disse nada. As lágrimas caíam livremente, e dentro dela, uma decisão já estava tomada.

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