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Cecília chamou um carro e seguiu Mirela discretamente.

No hospital, parou diante da porta do quarto e ficou observando tudo do lado de fora. Uma dor aguda atravessou seu peito, como se algo dentro dela tivesse sido rasgado.

Mordeu com força o lábio inferior, decidida a não deixar nenhum som escapar.

Lá dentro, o filho de Vinícius tomava soro na veia. O rostinho abatido e frágil partia o coração de qualquer um.

Vinícius andava de um lado pro outro, completamente desesperado.

— O que vocês estão fazendo aqui, hein?! Nem conseguem baixar a febre de uma criança?!

Cecília reconheceu o médico que tentava manter a calma, Caio Antunes, velho amigo de Vinícius.

— O garoto pegou uma friagem, só isso. Se cuidasse melhor dele, não precisava vir gritar com a minha equipe!

Caio cruzou os braços, encarando Vinícius com irritação.

— E você não dizia que ia pagar pra aquela mulher ir embora assim que o bebê nascesse? Agora, por causa de uma simples febre, me arrasta até aqui? E se a Ciça descobre, o que vai dizer?

Houve um breve silêncio. Então Vinícius falou, num tom baixo, cansado:

— O que eu podia fazer? Mãe e filho têm uma ligação forte. Sempre que tento mandar a Mirela embora, o Lulu chora sem parar. Não dá pra deixar ele assim,né? Caio.

— Ah, tá. E você quer me convencer de que é só o menino que sente falta dela? — Respondeu Caio, com um riso seco. — Admita, no fundo, é você que não quer deixar ela ir.

Vinícius massageou a têmpora com força, frustrado.

— Para com isso. Eu juro, Caio. Eu só amei a Cecília nesta vida. Mas a família Azevedo precisa de um herdeiro. Você tem que me ajudar a esconder isso da Ciça. Eu não quero machucar ela.

Fez uma pausa. A voz já saía como um sussurro:

— E sobre a Mirela. Ela me deu um filho. Não posso simplesmente deixar ela sem nada.

Foi nesse momento que Mirela entrou. Chorando copiosamente, os olhos marejados, a voz trêmula.

— Vini. Foi culpa minha. Eu não cuidei direito do Lulu. Depois que você foi embora ontem à noite, ele começou a ter febre e ficou pedindo pra te ver... Eu não quis atrapalhar você e sua esposa, por isso fiquei calada...

Vinícius tocou o rosto quente do filho. Suspirou. E o último resquício de raiva e mágoa desapareceu do seu coração.

Ele acolheu a mulher que chorava e tentou acalmar com a voz baixa:

— Não chora mais. Eu nunca quis te culpar. Lulu é nosso filho. A culpa é minha, como pai que falhou.

Mirela puxou a camisa de Vinícius com delicadeza. Os dedos passaram pelo peito dele como quem marcava território.

— Vini. Eu sei que nunca vou ser como a senhora Cecília. Mas não consigo ver o nosso filho sendo tratado com indiferença.

O olhar de Vinícius endureceu:

— O filho de Vinícius Azevedo ninguém vai fazer sofrer! Mas você precisa cuidar de si também. Olha só o estado do seu rosto, todo borrado de tanto chorar.

Ele levantou a mão e, com suavidade, limpou uma lágrima que escorria do canto do olho dela. O gesto, íntimo e ambíguo, atravessou o peito de Cecília como uma lâmina.

Ela apertou os punhos com tanta força que as unhas cravaram na palma da mão, deixando marcas em forma de meia-lua. E, mesmo assim, não sentiu dor.

Ou talvez. Nem toda dor física conseguiria competir com a do coração.

A chuva voltou a cair com força. Cecília deixou o hospital sem dizer uma palavra.

Caminhava sob a tempestade, o corpo molhado, a alma em ruínas.

A água escorria pelo rosto, borrando a visão. Mas não havia chuva suficiente no mundo para lavar a vergonha que sentia.

Quando enfim chegou ao Grupo Lacerda, os calcanhares já estavam feridos, em carne viva, machucados pelo atrito do salto alto. O sangue se misturava com a água da rua.

O estado dela assustou a recepcionista, que correu até ela:

— Senhora Cecília! Meu Deus, o que aconteceu? Quer que eu ligue pro senhor Vinícius? Se ele te visse assim, com certeza ficaria arrasado...

O peito de Cecília doía tanto que já parecia anestesiado. Sim. Todo mundo acreditava, sem dúvida alguma, que Vinícius a amava.

Mas ninguém sabia quanto de mentira e de traição havia nesse amor.

Ela afastou delicadamente a mão da recepcionista e falou com a voz rouca:

— Tá tudo bem. Peguei chuva no caminho. Compra uma roupa limpa pra mim e manda deixar aqui, por favor.

Estendeu o cartão preto, depois entrou na sala de reuniões mais próxima e trancou a porta por dentro.

Assim que o silêncio tomou conta do ambiente, Cecília desabou. Ela pensava que já estivesse imune à dor. Achava que, depois de ver aquelas fotos, nada mais a abalaria.

Mas ver aquela "família feliz" diante de si, reabriu a ferida que ela guardava no fundo do peito. Dessa vez, sangrou mais fundo, mais cru, mais real.

O choro tomou conta da sala, ecoando pelas paredes frias. Era um pranto rasgado, dolorido, daqueles que vêm da alma.

Queria tanto perguntar a Vinícius… Por que foi ele quem prometeu eternidade, e também ele quem construiu outra vida ao lado de outra mulher?

Só quando escutou batidas suaves na porta conseguiu recobrar a consciência.

Mas quem deixou as coisas já tinha ido embora. No chão, bem dobradas, estavam as roupas limpas e o cartão. Ao lado, um copo de água quente.

Sob o copo, havia um bilhete escrito à mão:

Sra. Cecília, fique tranquila. Eu não avisei o Sr. Vinícius. Sei que a senhora não quer que ele fique preocupado.

O coração dela se apertou ainda mais. Rasgou o bilhete em pedacinhos e jogou no lixo.

Pegou a roupa, foi até o lavabo e trocou de roupa. Minutos depois, já era novamente a herdeira do Grupo Lacerda. Impecável. Inabalável.

De salto alto, seguiu até a sala da presidência e mergulhou no trabalho pelo resto do dia.

Durante esse tempo, Vinícius mandou várias mensagens. Ela não abriu nenhuma. Não respondeu nenhuma.

Só ao cair da tarde, exausta, voltou para a mansão. Estava decidida a arrumar as malas e partir na manhã seguinte.

Mas, ao abrir a porta, ouviu uma risada infantil ecoando na sala de estar. E então a viu. Mirela Lima, bem ali, parada na frente dela.

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