No décimo dia após a minha morte na avalanche, meu marido finalmente se lembrou de mim. Porque sua primeira namorada, Kelly, sofre de anemia aplástica e urgentemente precisa da minha medula óssea. Ele voltou para casa com o Termo de Doação para eu assinar, mas encontrou a casa vazia. Kelly, fraca, se apoiou nos braços dele e disse: — A Vanessa me odeia? Será que ela fugiu de propósito porque não quer me doar a medula? Talvez seja melhor desistir... eu ainda posso aguentar um pouco mais. Clyde a consolou com carinho. — Eu não vou deixar você sofrer. — É só uma doação de medula, ela não vai morrer por isso. Ele pegou o celular e me enviou mensagens: [Onde quer que você esteja, volte AGORA para assinar o Termo de Doação!] [Não seja egoísta! A Kelly está muito doente. Se não fizermos o transplante logo, ela vai morrer. É só uma doação de medula, não é a sua vida!] [Se você não concordar, eu corto o tratamento da sua mãe!] Clyde, eu morri depois que você deixou o resort de esqui com a Kelly. Eu e nosso bebê fomos soterrados pela neve da avalanche. E a mamãe... ela foi atacada por lobos enquanto tentava me salvar. Como você não sabia disso?
Leer másUltimamente, meus momentos de lucidez tornaram-se cada vez mais curtos; na maior parte do tempo, eu adormecia confusa, aninhada nos braços da mamãe.Quando, por acaso, eu acordava, via Clyde agindo como um louco, conversando com o ar.Logo depois, ele chorava, depois ria.Os vizinhos do lado pensavam que ele havia enlouquecido de verdade e, assustados, ligaram para a polícia várias vezes.No sétimo dia em que se escondeu em casa,Kelly apareceu.Ela olhou para Clyde e disse, com voz frágil:— Estes dias liguei para você, mas você não atendeu. Você esteve em casa todo esse tempo?Clyde não lhe respondeu, apenas continuou em silêncio com o que estava fazendo.Kelly correu até ele e o abraçou.— Clyde, o que você quer afinal? Você já se reconciliou com a Vanessa? Mas você me prometeu que ficaria comigo até eu me recuperar.Clyde a afastou.— Eu e ela jamais poderíamos reatar.Kelly ficou atônita.— Então, por que você está aqui? O médico disse que eu preciso do transplante de medula o mai
Ao chegar ao necrotério, o funcionário abriu duas gavetas do armário refrigerado.Vi meu próprio corpo e o da mamãe deitados ali, em silêncio.Como meu corpo ficou coberto pela neve e pelo gelo após a morte, não apresentava inchaço ou sinais de decomposição.Mas o corpo da mamãe não estava em bom estado. Ela já tinha sido dilacerada pelos lobos selvagens, restando apenas a cabeça.— Vanessa, não olhe.Mamãe me abraçou suavemente, cobrindo meus olhos com a palma da mão.Não sei por quê, mas parecia que conseguia sentir o calor vindo da alma dela.Clyde fixou o olhar no meu rosto, ficando completamente paralisado.Ele estava emocionalmente abalado,— Como isso é possível? Quando fui embora, ela estava bem. Não se passou nem meia hora.O funcionário, embora relutante, continuou a cumprir seu dever.— Sr. Clyde, estes são os pertences pessoais da Sra. Vanessa, por favor, confira.Ele abraçou minha mochila e, surpreendentemente, começou a chorar.Mamãe me segurava sentada sobre a mesa num c
Clyde chegou ao hospital onde sua mãe estava internada. Procurou pelo quarto dela três vezes, indo e voltando pelos corredores, mas não a encontrou.Por coincidência, uma enfermeira passou por ali, e ele segurou a mão dela.— E a Cristina Estela, que estava neste quarto?A enfermeira olhou para ele, pensou um pouco e respondeu:— Ah, aquela senhora em estado terminal de câncer? Ela recebeu alta há treze dias. Disse que queria passar o aniversário de casamento com a filha e o genro.— O senhor é parente da Sra. Cristina? As células cancerígenas dela se espalharam muito rápido, ela não vai viver por muito tempo. Vocês devem cuidar bem dela.Clyde não acreditou.— Como é possível? O câncer da Cristina não estava controlado com o tratamento?— Não sei dos detalhes, se o senhor for da família, pode procurar o médico responsável.A enfermeira saiu apressada, e Clyde, sentindo-se fraco, deslizou até o canto da parede e se sentou.— Por que a Vanessa não me contou que a mãe dela já estava em e
O prazo de três dias que ele me deu terminou e eu ainda não apareci no hospital.Kelly reclamava todos os dias ao seu ouvido, dizendo que ia morrer, e Clyde, profundamente irritado, voltou para casa mais uma vez.Mas a casa continuava igual antes, exceto por uma notificação de cobrança de conta de luz deixada na porta.Eu vi Clyde parado na entrada, tentando ligar para mim.Do outro lado da linha, soava apenas a voz eletrônica e mecânica, informando que o número chamado estava desligado.Ele franziu a testa, abriu o aplicativo de mensagens, e as mensagens ainda eram as enviadas por ele três dias atrás, exigindo que eu aparecesse o quanto antes para doar medula óssea para Kelly.Obviamente, eu não podia responder.Ele então abriu meu Instagram e, ao ver a foto que eu postara treze dias antes, ficou paralisado.Na foto, eu estava de pé no topo de uma montanha coberta de neve, com o sol recém-nascido ao fundo.A legenda era breve, apenas uma linha.[Feliz aniversário de três anos de casam
Clyde acompanhou Vanessa de volta ao hospital.Os dois pareciam tão próximos que lembravam um casal apaixonado.— Clyde, será que a Vanessa me odeia tanto assim a ponto de estar se escondendo de propósito?— Eu nunca deveria ter voltado ao país, nunca deveria ter pensado em te ver uma última vez antes de morrer. Você não precisa ficar comigo no hospital, vá para casa consolar a Vanessa. Quando eu morrer, vocês dois vão se reconciliar.No leito do hospital, Kelly parecia prestes a chorar, empurrando Clyde para fora com delicadeza.Clyde afagou seus cabelos com carinho.— Boba, você só está com anemia, não vai morrer. Mesmo que a Vanessa não doe a medula, eu farei de tudo para encontrar uma compatível para você.Kelly ficou visivelmente emocionada.— Obrigada, Clyde. Conhecer você foi a melhor coisa que me aconteceu na vida.— Não sei quanto tempo ainda vou sobreviver, se vou conseguir esperar por uma segunda compatibilidade bem-sucedida. O médico disse que os dados da medula da Vanessa
Dez dias atrás, eu e meu marido Clyde combinamos de ir esquiar na Montanha de Neve de San.Eu já estava vestida com o equipamento de esqui e sentada no saguão esperando o instrutor, quando Clyde apareceu diante de mim acompanhado de sua primeira namorada, Kelly.Ele me entregou um Termo de Consentimento para Doação, pedindo para eu assinar.— Vanessa, você e a Kelly tiveram compatibilidade de medula óssea. Assim que voltarmos, faremos a cirurgia.Ao lado, Kelly, com o rosto pálido, segurou minha mão com muita gratidão.— Vanessa, obrigada por estar disposta a doar sua medula óssea para mim. Eu e o Clyde sempre seremos gratos a você.Retirei minha mão e olhei para Clyde, hesitante, dizendo:— Clyde, estou grávida. Será que podemos adiar a doação por enquanto?Eu queria trocar de roupa, pegar na minha bolsa o exame que comprova a gravidez.Mas Kelly me olhou com os olhos cheios de lágrimas.— Vanessa, nos últimos meses o Clyde esteve comigo o tempo todo no hospital. Como você poderia est
Último capítulo