Na manhã seguinte, Cecília desceu as escadas e se deparou com Mirela na sala de jantar, organizando os talheres sobre a mesa.

Depois de uma noite de esforços bem calculados, Mirela finalmente havia trocado o uniforme de funcionária por um vestido justo ao corpo, que realçava cada uma de suas curvas provocantes.

E com aquele rosto que lembrava, ainda que vagamente, o de Cecília... Não era de se admirar que Vinícius tivesse se deixado seduzir.

Ao notar a presença dela, Mirela sorriu com entusiasmo:

— Bom dia, senhora! O café já está pronto.

Se virou de lado como quem não queria nada, revelando marcas escuras no pescoço — beijos visíveis, espalhados como troféus. No pulso fino, usava uma pulseira de jade de verde translúcido.

Cecília a reconheceu no mesmo instante. Era a joia que pertencera a Isadora Azevedo.

Uma relíquia da família Azevedo. Uma herança que, anos antes, Vinícius tentou pedir à mãe para dar a Cecília.

Mas Isadora recusou. Disse que uma mulher que não podia dar herdeiros à família não era digna daquele bracelete.

E agora, ali estava ele... No braço de Mirela.

Cecília apertou os punhos com força.

De repente, tudo em que acreditava lhe pareceu ridículo.

Cecília evitava causar escândalo por consideração à longa amizade entre as famílias Lacerda e Azevedo. Mas, no fim das contas, era Mirela quem Isadora reconhecia como nora.

Até ontem, no hospital, os amigos mais próximos de Vinícius sabiam da existência de Mirela. Só ela, como uma idiota, ainda girava em torno das promessas vazias de Vinícius.

Cecília soltou um sorriso amargo.

Se, no início, Vinícius tivesse decidido ter filhos, ela também teria sabido aceitar e partir, jamais teria continuado ao lado dele.

Mas bastava pensar na cena da noite anterior, no escritório, para que uma dor fina e constante voltasse a latejar no peito. Deu vontade de dar na cara dele.

Só que não era isso que queria. Ela queria que ele se arrependesse. Pelo resto da vida.

Foi quando Vinícius desceu as escadas.

Estava com a expressão leve, revigorado, como se a noite anterior não tivesse exigido nada dele.

Ao passar por Mirela, os dois trocaram um olhar carregado de desejo. Mirela corou, abaixando os olhos com vergonha.

Só então, ao se virar, o homem notou o rosto pálido de Cecília e ficou preocupado.

— Amor, você pegou chuva ontem? Está doente? Se quiser, posso faltar no trabalho hoje e ficar em casa cuidando de você...

Cecília só queria sair dali o quanto antes. Cada segundo ao lado dele era sufocante. Começava a sentir nojo até da presença de Vinícius.

— Não precisa — Disse, firme. — O trabalho é mais importante. Eu vou ficar em casa e descansar um pouco.

Vinícius franziu o cenho. Uma inquietação estranha começou a crescer por dentro.

Normalmente, Cecília fazia de tudo para manter ele por perto. Agora, parecia rejeitar a cada palavra.

Mas ele conhecia aquela mulher. Sabia que, quando ela tomava uma decisão, não havia volta.

Sem ter o que dizer, apenas se virou para os empregados e ordenou:

— Cuidem bem da senhora, entenderam?

Os funcionários se entreolharam, impassíveis.

Já estavam imunes à encenação de casal apaixonado. Todos assentiram com a cabeça, sem nenhuma surpresa.

Nesse instante, Mirela se levantou de repente, caminhou até Vinícius, começou a arrumar a gola da camisa dele.

— A sua gola está torta. Deixa que eu arrumo.

E Vinícius, por instinto, baixou a cabeça e permitiu o gesto.

Foi exatamente esse tipo de reação automática que mais doeu.

Os empregados ao redor prenderam a respiração. Todos lançaram olhares rápidos para Cecília e nenhum deles ousava fazer barulho.

Só então Vinícius percebeu o constrangimento da cena. Deu um passo brusco para trás, se afastando de Mirela, e agradeceu com frieza:

— Obrigado.

— Eu vou para a empresa. — Caminhou até Cecília, se inclinou e depositou um beijo leve na testa dela. — Fica bem, tá? Espera eu voltar.

A voz doce e protetora era a mesma de ontem à noite, no escritório.