À mesa, Cecília olhava o café da manhã fumegante à sua frente, mas tudo parecia sem gosto.

A doçura calculada de Vinícius, a provocação escancarada de Mirela... cada cena voltava à sua mente como um eco. Ela não conseguia comer.

Se levantou sem dizer nada e subiu as escadas. Começou a arrumar suas coisas.

Aquela casa guardava memórias demais. Ela precisava ser a própria mão que jogaria cada lembrança fora.

Sem que Cecília percebesse, Mirela apareceu atrás dela.

— A senhora Cecília tem mesmo sangue frio, hein. Lulu é o futuro herdeiro da família Azevedo, e eu sou a mãe do herdeiro. Neste lugar, não existe espaço pra você.

Cecília ergueu os olhos, fitou Mirela com um sorriso que não chegava nos lábios.

— E daí?

A calma da resposta deixou Mirela ligeiramente sem reação.

Ela franziu a testa e insistiu:

— Eu sei que você não quer o divórcio. Mas também não pode ser tão egoísta, né? Ficar agarrada no título de senhora Azevedo desse jeito. A família Azevedo nunca aceitaria uma mulher que não pode ter filhos.

Cecília soltou uma risada seca. O olhar, puro escárnio.

— O título de senhora Azevedo? Se você quer tanto, pode ficar com ele.

Sem hesitar, tirou do bolso uma pasta e estendeu os papéis diante de Mirela.

— Você sabe o quanto Vinícius ainda gosta de mim. Fazer ele aceitar o divórcio não vai ser fácil. Mas vou te dar o contrato. Se você tem tanta capacidade, convence ele a assinar e me manda. Se não tem, então se prepara pra viver a vida inteira sem nome e sem lugar.

Os olhos de Mirela brilharam. Arrancou os papéis das mãos de Cecília como quem apanha um troféu.

Mas, ao ver a assinatura dela no final da página, hesitou.

— Você vai mesmo deixar o Vinícius?

O coração de Cecília tremeu. Amar alguém por tanto tempo... Ouvir a palavra "deixar" ainda a feria profundamente.

Fechou os olhos com calma, engoliu o amargor que subia pela garganta. Quando os abriu novamente, havia apenas serenidade.

— Eu não sou mulher de disputar homem com ninguém.

Ela poderia entregar a vida por Vinícius. Mas nunca aceitaria ser traída.

Mirela soltou um riso debochado. Achava que Cecília só estava sendo orgulhosa, mas mesmo assim levou consigo o contrato de divórcio.

Cecília entrou no closet e observou todas as prateleiras cheias de presentes que havia ganhado de Vinícius. Ainda assim, o vazio dentro dela não diminuía.

Começou a organizar suas coisas: roupas, documentos, objetos importantes — guardou tudo na mala, peça por peça.

Quanto aos presentes de Vinícius, não ficou com nenhum. Empacotou todos e mandou que fossem entregues a uma casa de leilões.

Se era pra ir embora, que fosse com corte limpo.

As empregadas observavam à distância, cochichando entre si, sem coragem de se aproximar. Cecília também não se deu ao trabalho de explicar nada.

Quando terminou de arrumar tudo, já era tarde. Se sentou na sala, com a mala ao lado, esperando Iris vir buscar ela.

Foi só então que lhe ocorreu uma sensação estranha: não tinha visto Lucas o dia inteiro. Será que ele havia mesmo sido levado embora?

Ainda imersa nas dúvidas, viu a porta se abrir com estrondo. Vinícius entrou às pressas, seguido por Mirela e Isadora.

— Senhora, pelo amor de Deus, me diga onde está o Lulu! — Mirela veio correndo até ela, chorando, agarrando seus braços e sacudindo sem parar.

O impacto repentino fez Cecília cambalear.

Ela se desequilibrou e bateu com força na quina da mesa atrás de si. Uma dor aguda a fez prender a respiração.

— Você tá louca? Como é que eu vou saber onde ele tá? — Disse Cecília, ofegante.

Mas Mirela chorava ainda mais, descontrolada. Num impulso, agarrou uma faca de frutas que estava sobre a mesa e pressionou contra o pescoço de Cecília.

— Senhora, eu sei que você não gosta do Lulu... mas não podia esconder ele do senhor Vinícius desse jeito! Você não podia ter mandado o Lulu embora! Devolve ele pra mim!