Cecília foi tomada por uma sensação repentina de impotência.
Puxou os cantos dos lábios num sorriso amargo e murmurou, com voz firme:
— Tanto faz. Podem pensar o que quiserem. Não adianta eu dizer nada.
— Papai, tá vendo? A mulher má já confessou! Você tem que castigar ela de verdade!
Lucas puxava a manga da camisa de Vinícius, mas os olhos espiavam Mirela, em segredo.
Quando os olhares se cruzaram, Mirela assentiu discretamente.
Só então o rostinho tenso de Lucas se descontraiu um pouco.
Vinícius se agachou e passou a mão carinhosamente sobre os cabelos do filho.
— Lulu, eu vou sempre proteger você.
Logo depois, sua voz mudou, fria como gelo:
— Guardas, levem a senhora para a capela da família e deixem ajoelhada lá. Ninguém tem permissão para soltar ela sem minha ordem!
A sentença estava dada. Não havia mais volta.
Assim que terminou de falar, Vinícius estendeu a mão para ajudar Mirela a se levantar.
Os dois, junto de Lucas, caminharam em direção à saída, e nenhum deles olhou para Cecília, nem por um segundo.
Mirela, no entanto, lançou um olhar provocador na direção dela. Um olhar cheio de arrogância, como se a vitória já estivesse garantida. Daquele jeito, dilacerava o coração de Cecília.
Quando o carro do lado de fora ligou o motor, Isadora finalmente assentiu, satisfeita. Assumiu o tom de uma matriarca e fez um gesto com a mão, ordenando aos criados que levassem Cecília à força.
Os empregados que estavam na mansão Azevedo há anos hesitaram. Ainda tentaram sussurrar, em tom de consolo, ao seu ouvido:
— Senhora, não se preocupe. A gente sabe que a senhora não é assim. Talvez o senhor Vinícius esteja com as mãos atadas. Ele ama a senhora, não vai deixar isso durar.
Cecília apenas sorriu com amargura.
Tanto faz. Ela já estava indo embora mesmo. Nada mais importava.
Na capela da família, ficou ajoelhada por três dias e três noites. Foi ainda pior do que ela havia imaginado.
Os criados da mansão Azevedo pareciam ter recebido ordens claras:
além de incontáveis humilhações e insultos, ela era punida fisicamente de algumas em algumas horas.
As varas desciam sobre seu corpo como chuva. Mas Cecília não deixava escapar um único som.
Mordeu os próprios lábios com força, deixando o gosto de sangue se espalhar pela boca. No fundo da alma, tudo ia ficando cada vez mais escuro.
De repente, Cecília se lembrou de sete anos atrás.
Naquela época, Vinícius havia passado três dias e três noites ajoelhado na capela da família Azevedo só para poder se casar com ela. Tinha acabado de soldar uma costela fraturada, quase ficou com sequelas para o resto da vida.
Na verdade, não era só Isadora quem o pressionava. Iris e os pais de Cecília também a aconselhavam a pensar melhor. Todos sabiam o quanto a família Azevedo, geração após geração, valorizava a figura do herdeiro.
Mas ela... Ela sentiu pena de Vinícius. Acreditou que o amor deles era à prova de tudo. Mesmo sob enorme pressão, foi com ele até o cartório e assinou o casamento.
Hoje, isso tudo seria o preço por amar o homem errado?
"Então, que seja.
Vinícius... Só espero que você nunca se arrependa." Ela pensou.
Na manhã do quarto dia, as portas da capela se abriram lentamente. Vinícius entrou.
— Amor. Vim te buscar.
A voz soava rouca. O rosto, cansado.
Mas Cecília agia como se não tivesse ouvido. Ficou ali, imóvel, encarando os incontáveis retratos e placas que cobriam o altar.
Sim. A capela da família Azevedo era conservada com perfeição. Cada líder familiar tinha seu nome ali, cultuado geração após geração.
Ela que foi ingênua, achando que Vinícius abriria mão de um filho. Se agora estava nessa situação... Era porque ela mesma escolheu assim.
Sem responder, Cecília se levantou devagar.
Depois de tanto tempo ajoelhada, mal sentia as pernas. E cada movimento puxava a dor nos ferimentos das costas.
Mal ficou de pé e já caiu com tudo para frente.
Vinícius a segurou a tempo, envolvendo-a nos braços.
— Ciça, se você errou, precisa aceitar as consequências.
Como vai dar exemplo pro nosso filho?
E não foi nada demais, era só uma punição simples.
Só uma punição?
E os machucados que agora cobriam seu corpo?
Cecília soltou um riso amargo. Empurrou Vinícius com força:
— Vinícius. Você lembra o que me prometeu? Disse que, se eu não gostasse do menino, você o mandaria embora.
Vinícius franziu o cenho e suspirou, a voz tomada de cansaço:
— Ciça, a família Azevedo não pode ficar sem um sucessor. E ele é a melhor opção. Nós somos um casal. Você também precisa pensar em mim.
Cecília já tinha ouvido isso tantas vezes que nem doía mais. Olhou para ele, sarcástica:
— É mesmo? Por um segundo eu pensei que ele fosse seu filho de sangue.
A respiração de Vinícius falhou. Desviou o olhar, nervoso.
— Claro que não, meu amor. Você é a única mulher que eu amei na vida. Mas o Lulu, ele é um menino bom. Muito fofo.
Amar ou não amar — Cecília já não queria mais discutir isso.
Depois de tantos anos como amantes íntimos, terem se tornado quase estranhos fazia com que todas as emoções sufocadas em seu peito ameaçassem transbordar como uma enchente.
— Vinícius, até quando você vai...
Enganar?
Ela nem chegou a terminar a frase. Mirela entrou de repente na capela.
— Vinícius, o Lulu tá pedindo pra ir no parque. Vamos com ele?
Lançou um olhar breve para Cecília.
— Mas pelo jeito, a senhora não parece muito bem, talvez seja melhor...
— Ela não vai. — Disse Vinícius, com frieza, decidindo por ela.
Encostou os olhos nela, sem expressão alguma:
— Amanhã é o aniversário do Lulu. A família Azevedo vai organizar uma festa na mansão. Vamos aproveitar a ocasião para anunciar oficialmente quem ele é. Você, como mãe dele, deve se preparar.
Mãe do Lucas? Cecília soltou uma risada seca por dentro. Só de ouvir, já lhe causava repulsa.
Cambaleando, saiu da capela da família Azevedo. Ao longe, viu Iris, estava ali, ansiosa, esperando por ela.
Sem hesitar, caminhou em sua direção. Mas antes que pudesse se afastar muito, ouviu a voz de Vinícius soar pelas costas:
— Ciça, vou levar o Lulu ao parque hoje. Não volto pra casa esta noite. Descansa. Amanhã cedo mando alguém te buscar.
Cecília não se virou. Apenas respondeu com um "hum" leve, quase inaudível.
E mesmo com as costas dela se distanciando, algo dentro de Vinícius se agitava. Um incômodo inexplicável o tomava por dentro.
Mas ele se obrigou a manter a postura. Conhecia o orgulho de Cecília. E se o Lulu realmente fosse ser aceito pela família, esses conflitos teriam de acontecer.
Acreditava, no fundo, que Cecília ainda o amava.
E que, passado o choque inicial, ela acabaria cedendo... por amor.
Do outro lado, Cecília finalmente entrou no carro com a ajuda de Iris.
— Ciça, peguei sua mala já arrumada. Ah, e isto aqui.
— Mirela me deu. — Disse, entregando um envelope.
Cecília abriu o envelope. Dentro, estava o contrato de divórcio, assinado por Vinícius no fim da página.
Pela janela, observou os três — Vinícius, Mirela e Lucas — entrarem sorrindo em outro carro e partirem, como uma verdadeira família. O olhar dela era puro gelo.
— Iris, vamos para o aeroporto. Agora mesmo.
E, dentro de si, pensou:
Vinícius, desta vez, eu escolho abrir mão de você.